"Um mês sem Marielle, um mês de impunidade", é o nome da iniciativa de um conjunto de pessoas sem designação formal e que está a promover ações musicais, artísticas e políticas no centro da capital portuguesa.

"Este movimento criou-se organicamente a partir de um grupo de brasileiros que foram impactados com a notícia da morte de Marielle, há um mês. Esse sentimento de revolta foi meio comum a todos nós e ficou essa sensação de que precisávamos de tomar alguma atitude", disse à Lusa Manuela Allo, 30 anos, brasileira a viver em Lisboa há um ano e meio, formada em Publicidade e Comunicação, destacando a simpatia pelos movimentos feministas, negros e LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais).

Segundo este elemento da organização, "fazia sentido não esquecê-la [Marielle] e as causas que representava", daí a promoção, juntamente com "diversos coletivos de brasileiros, portugueses e de outras nacionalidades" para "tornar esta praça pública um centro de discussão dessas questões sociais e fazer eco dessas vozes que querem saber o que aconteceu com Marielle".

Sobre a situação política no Brasil, com a recente prisão do ex-Presidente Lula da Silva, Manuela Allo descreveu-a como "muito problemática", cujo "ponto emblemático foi o ‘impeachment'" (que impediu a continuidade do mandato da presidente Dilma Roussef).

"A gente precisa entender como essas questões impactam nas questões sociais. Vozes que se levantam pelas questões práticas do dia-a-dia e falam de direitos e igualdade e combatem certos pensamentos homofóbico, machistas, precisam de ser observados e ecoados. A política é o que se faz no dia-a-dia", disse.

Outra das promotoras, Illa Branco, cidadã brasileira e organizadora de eventos e publicitária de 28 anos, a estudar em Portugal, afirmou que "é muito bonito ver este movimento aqui e a rapidez com que as coisas se organizaram".

"A gente sabe que Portugal é um lugar ativo para isso, tem muitas atividades culturais, associações recreativas que se mantêm, com um fomento artístico e político muito fortes", continuou.

Para Illa Branco, prevaleceu "a vontade de fazer alguma coisa que juntasse a política e as vozes das minorias com o estímulo cultural".

"A gente não está fazendo isso num bairro afastado, a gente escolheu o coração da cidade para que, tanto o turista, como quem está passeando ou não está tão atento... a ignorância é muito perigosa... e acaba ouvindo visões a que não tem acesso pela media ou os grupos sociais que escolhe", afirmou, embora, cerca de uma hora e meia após a hora marcada, a praça lisboeta estivesse pouco ou nada concorrida junto ao palco onde estão previstas atuações até, pelo menos, às 21:30.

Mas, "a democracia é isso: botar no palco o pensamento das pessoas e refletir sobre isso", concluiu Illa Branco.

Em 14 de março, Marielle, de 38 anos, foi morta à saída de uma favela do Rio de Janeiro, com quatro tiros na cabeça, com balas da Polícia Militar, cujos excessos ela diariamente denunciava desde que o Presidente brasileiro, Michel Temer, ordenou uma intervenção do Exército para fazer face à incapacidade da polícia em combater o crime organizado.

O crime, que tem indícios de ter sido uma execução, está a ser investigado pelas autoridades policiais locais.

A Organização das Nações Unidas (ONU) já pediu que as investigações "sejam feitas o mais rápido possível" e de forma "completa, transparente e independente", para que os resultados "possam ser vistos com credibilidade".