A exposição de longa duração do único museu nacional do Norte do país é, assim, o primeiro destino do quadro adquirido pela Fundação Livraria Lello em março, depois de ser exposto no dia 18 de maio no Mosteiro de Leça do Balio, em Matosinhos.

Em 18 de maio, Dia Internacional dos Museus, as visitas ao mosteiro, requalificado pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira, vão ser feitas por estudantes da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e pela Casa da Arquitetura, sendo necessária inscrição prévia.

Aquando da assinatura de um memorando entre o Estado e a fundação, em março, o presidente da empresa pública Museus e Monumentos de Portugal (MMP), Pedro Sobrado, disse que “o memorando significa que a obra regressa a Portugal num novo contexto, com o compromisso de que será exposta num ou vários museus nacionais, em articulação entre a Fundação Livraria Lello e a MMP”.

No âmbito do acordo, cujo conteúdo não foi divulgado, haverá um compromisso com o novo proprietário de a obra ser exposta “num museu nacional ou até em mais do que um, não estando excluída a sua exposição em instituições estrangeiras”.

A obra esteve envolta em polémica desde o final de 2023, quando a então Direção-Geral do Património Cultural decidiu autorizar a sua saída do país, contrariando pareceres de especialistas.

Os proprietários portugueses entregaram o quadro para venda no final de 2023, depois de terem recebido uma autorização de saída de Portugal, justificada pela “inexistência de qualquer ónus jurídico”.

A secção portuguesa do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal) manifestou em fevereiro, junto do Governo, indignação com a condução do processo que levou à saída do país do quadro de Domingos Sequeira e exigiu respostas oficiais. Anteriormente, um grupo de 12 especialistas da área do património também dirigiu uma carta aberta à tutela manifestando repúdio pela condução do processo.

Nessa altura, em resposta à missiva de 12 especialistas, a então secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, assegurou estarem em curso “todos os esforços” para conhecer as “eventuais condições de compra” da obra.

Por seu turno, o presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), João Neto, mostrou-se, na mesma altura, contra a aquisição pública da pintura, avaliada em 1,2 milhões de euros, num contexto em que o Estado se encontra “refém de interesses especulativos”.

No dia 12 de março, o Governo anunciou a compra do quadro por um privado português, com vista a expô-lo num museu nacional.

“Descida da Cruz” faz parte de um grupo de quatro pinturas tardias de Domingos Sequeira – com “Ascensão”, “Juízo Final” e “Adoração dos Magos”, esta última já na posse do MNAA por adquisição através de uma campanha pública – feitas durante os seus últimos anos de vida, em Roma, onde morreu em 1837. Pelo menos um grande estudo preparatório da obra, na posse do MNAA, está classificado como bem de interesse nacional.