A ação de protesto em Luanda – estavam anunciadas idênticas manifestações nas províncias do Bengo, Bié, Benguela, Malanje, Moxico e Zaire – destinou-se, segundo os organizadores disseram à agência Lusa, a chamar a atenção para o facto de “90% da população jovem angolana estar desempregada”.

“Esta realidade assusta”, disse à Lusa Viriato Cruz, 29 anos, desempregado há sete, apelando ao Governo para que incentive a criação de emprego para jovens, sobretudo na ideia de apoio às empresas no setor privado, uma vez que o Estado é o maior empregador do país e que “não chega para todos”.

“O Governo já poderia ter mostrado vontade para um maior investimento no setor privado. O Estado é o maior empregador, mas tem de mudar para aumentar as empresas no privado. Tem de ajudar, sobretudo em dar um crédito, não é só ter o cartão do partido (MPLA). João Lourenço é a continuidade de José Eduardo dos Santos e todas estas alterações são apenas uma fachada”, contestou.

No mesmo sentido, Graciano Brincos, 29 anos, e também desempregado, refutou a ideia de ser ainda cedo para fazer estas exigências ao Governo – João Lourenço está há apenas nove meses no poder -, defendendo que, em vez de diminuir, o desemprego está a aumentar.

“Está tudo na mesma meio ano depois. Em vez de criar empregos e arranjar 500 mil empregos, estão a criar mais desemprego”, sublinhou.

Na ação de protesto, a que se associaram oito dos 17 membros do Grupo que foi condenado a penas de prisão por alegada rebelião, tendo dois deles, Hitler Tshikonde e Arante Kivuvu, considerado à Lusa que a mudança de Eduardo dos Santos para João Lourenço nada trouxe de novo.

“Considero que João Lourenço, tal como José Eduardo dos Santos, são partes do mesmo grupo e, havendo desemprego, eles são culpados e devem ser responsabilizados. João Lourenço faz parte de um grupo, de uma estrutura de uma estrutura apodrecida. É membro do MPLA, [partido] que governa o país há 42 anos. Todos os problemas que temos, ele também é herdeiro. Os desafios são os mesmos, mas ele prometeu criar os 500 mil empregos, prometeu criar políticas, mas nada mudou”, disse Tshikonde.

“Há mais índice de desemprego na juventude. Não nos sentimos realizados. Temos de chamar a atenção para criação de política de emprego. Se vamos esperar quatro anos sem chamar a atenção então é que tudo ficará na mesma. Há um número maior de pobreza extrema, que leva à delinquência e à prisão”, disseram quer Tshikonde quer Kivuvu.

A marcha de protesto, onde, entre outras, se ouviam palavras de ordem como “o trabalho é um direito” ou “o desemprego marginaliza”, começou no Cemitério de Santana e terminou cerca de cinco quilómetros depois, “às portas” da Praça da Independência, onde não chegou a entrar devido a um forte dispositivo de segurança policial, que acompanhou a ação desde o início.

Em 22 de julho de 2017, em plena campanha eleitoral para as eleições gerais de agosto em Angola, João Lourenço, hoje chefe de Estado, prometeu que, numa só legislatura, iria conseguir criar pelo menos meio milhão de empregos, reduzir um quinto à taxa de desemprego de 24% e instituir o rendimento mínimo social para as famílias em pobreza extrema.

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