Dois meses de guerra e o mundo continua a girar. O meu amigo fotojornalista do Observador, João Porfírio, está de regresso à Ucrânia e, quando falámos ao telemóvel, disse-me: “Já ninguém liga grandemente a isto, pois não?” Espero que esteja errado, que estejamos todos atentos, que possamos respirar fundo de enorme alívio, por ver Macron à frente de França, em vez de Le Pen, pró-russa entre outras maleitas.

Importa porventura dizer que não sofro de russofobia, como tenho visto e lido em tantas publicações nacionais e estrangeiras. Não confundo o povo russo com Putin. E creio que não será uma equação simplista a resolver a guerra. Não há só bons, não há só maus. A Ucrânia é acusada, até pelo nosso pequenino e moribundo, cada vez mais moribundo, partido comunista, de neonazi e outras coisas. Existirão neonazis na Ucrânia? Pois, caramba, se eles existem aqui, será natural que existam por lá!

Espero que António Guterres tenha sucesso nas suas manobras diplomáticas. A carta de 200 antigos funcionários da ONU, a reclamar face à sua inação, apelando a um maior envolvimento, instigando Guterres a fazer mais e melhor, parece ter resultado e aí está ele, em Moscovo, a pedir a paz. O mesmo pedido que outros têm feito e sem resultados. O que terá o secretário-geral da ONU que os outros não tenham? Algum truque na manga, para meter Putin entre a espada e a parede? Duvido. Mas cumpre a sua função, pelo menos 200 antigos funcionários já não podem dizer que não fez nada.

Estas manobras políticas e diplomáticas em prol da paz, que têm sido executadas em diferentes territórios, por líderes distintos, até ideologicamente diferentes, não podem ser avaliadas como a mediação de um diferendo familiar. O primo que se aborreceu com o tio, ou coisa que o valha. O que está em causa é tão mais do que a cerimónia de Natal que reúne a família. E, no caso, estamos a lidar com Putin e esse, como se sabe, não se comove com as palavras do Ocidente. Tem uma estratégia. Vai bombardear a Ucrânia como fez com a Síria e fazer do país terra queimada.

Não, não pode ser-nos indiferente, não podemos cansar-nos da guerra na Ucrânia, de todas as guerras. Quantos países vivem um conflito armado? De momento, 28 países. O que sabemos, lemos, ouvimos sobre os restantes conflitos? Menos do que deveríamos. Porque são longe, parece que não nos afectam. Não é verdade, o mundo é demasiado pequeno para sairmos incólumes de tudo isto.