Não vale a pena censurar, a frase é da autoria do grande Jorge de Sena. É totalmente apropriada ao momento que vivemos. A guerra não se resume à Ucrânia, temos várias frentes abertas e em Portugal a violência doméstica e femicídio sistemático é uma delas. A par disto surge o pior da justiça à portuguesa.

Podemos indignar-nos porque uma juíza dá ordem de soltura a Mário Machado para ir, alegadamente, para a Ucrânia (adorava saber quem é que vai atrás dele para se certificar de que luta do lado certo, ou que vai simplesmente na tal “missão humanitária” que tanto comoveu a juíza. Não terá pensado que a criatura poderia sumir? Adiante), mas devíamos fazer uma verdadeira revolução, a fim de perceber por que carga de água é que os nossos juízes, homens ou mulheres, tomam decisões tão espantosas – no pior sentido – como esta: uma jovem de 15 anos é raptada à porta de uma escola e, de seguida, violada por dois homens de 20 e 24 anos. A Unidade Local de Investigação Criminal de Évora captura os dois indivíduos que “terão, conjuntamente, subjugado a vítima a atos de violência sexual, depois de a terem transportado para um ermo”.

Concluiu-se que o rapto e violação foram originados por uma “vingança”, ou seja, por falta de pagamento, 20 euros em haxixe que o namorado da vítima não pagou a tempo e horas. Portanto, além de raptores e violadores, são também uns tipos que vendem droga (não para efeitos medicinais, entenda-se). Ok, então estas duas criaturas são levadas perante um juiz, em Évora, e a sua sentença? Vão em liberdade. Não podem circular em locais por onde a jovem vítima possa circular, e terão de se manter a 200 metros e de se apresentar, duas vezes por semana, na GNR de Montemor-o-Novo. A sério? Expliquem-me lá como se eu tivesse cinco anos.