O abuso foi confirmado. Sem margem para discussão nem espaço para dúvidas – o pai abusou da filha. Apesar disso, a juíza do Tribunal de Aveiro decidiu mandar o homem para casa, com medida de restrição, e disse uma coisa espantosa: foi uma única situação e “não foi das mais gravosas”. Não tem antecedentes, o pedófilo.

Há uma tabela de coisas mais graves e menos graves quando se trata de abusar sexualmente de uma criança, conclui-se. E eu a pensar que era tudo mau, era tudo traumatizante e para a vida.

A juíza decidiu que estava tudo bem, ou menos mal, depois de ouvir as declarações da menina. Os acontecimentos deram-se em 2017. A menina testemunhou agora, tem oito anos. Não me digam que isto não causa qualquer perturbação. Não acredito que não cause.

Tudo isto se passou em Águeda na semana passada. Águeda, Portugal, não foi no fim do mundo incivilizado e pouco ocidentalizado, no qual as meninas casam menores de idade e têm filhos mal menstruam. Não, foi neste Portugalinho de meias-medidas, e de juízes cujo valor e qualidade me surpreendem pela negativa e, acima de tudo, me deixam verdadeiramente enervada, para não dizer enfurecida. Estamos a brincar? Uma menina é abusada, mas não foi nada?

O indivíduo, de 62 anos, teve direito a uma pena suspensa de três anos e dois meses.

Temos pouco respeito pela vida das mulheres em geral, é a conclusão a que se chega, e nenhum pelos direitos fundamentais das crianças. O que passará na cabeça desta menina? E da mãe desta menina? E se este indivíduo, que a juíza escolhe deixar em liberdade, repetir o ato? À segunda será de vez, ou teremos de esperar por uma terceira? Expliquem-me como se eu tivesse quatro anos, talvez esteja a ver tudo mal.

Que esta sentença saia e que apareçam umas notícias nos jornais, está certo. Que esta sentença saia e que mais nada se passe, desculpem, mas não está certo. Quem fiscaliza os juízes que, aparentemente, podem interpretar a Lei como bem entendem, sendo, assim, complacentes com um pedófilo? Não há outra palavra para descrever o que este homem é, pois não?

Em Agosto, também em Águeda, outro homem foi apanhado em flagrante, abusava da enteada de dez anos e distribuía pornografia infantil. A Polícia Judiciária de Aveiro, no comunicado emitido, dizia: “Para além de práticas exibicionistas perante a menina, também a terá sujeitado a atos sexuais de relevo”. Foi mandado para casa, e está obrigado a apresentar-se todas as semanas e interdito de utilização de internet. Até ir a tribunal, imagino. O que aconteceu neste caso? Não sei, não encontrei mais informação; mas seja como for, expliquem-me lá outra vez tudo isto, para que eu possa entender como não funciona a nossa Justiça.