Apesar de não terem protagonizado qualquer ataque, na segunda-feira grupos armados foram vistos numa escola primaria na aldeia de Mussomero, a cerca de seis quilómetros da sede distrital de Quissanga, no norte da província de Cabo Delgado.

"Os terroristas chegaram aqui na nossa aldeia por volta das 18:00 (16:00 em Lisboa), em número muito elevado, na sua maioria armado, mas não fizeram mal a ninguém", disse à Lusa um residente local a partir da sede Quissanga.

A movimentação daqueles grupos, prosseguiu a fonte, provocou alguma agitação, levando algumas pessoas daquela aldeia a optarem a abandonarem as suas casas.

"Quando eles [os rebeldes] notaram movimento de fuga de alguns moradores, pediram para ninguém não fugir, afirmando que estavam ali para proteger as comunidades e convidando a população a juntar-se a eles", acrescentou.

Um outro residente do distrito de Quissanga disse que os rebeldes terão abandonado o local perto da meia-noite, sem, no entanto, se terem registado confrontos com as Forças de Defesa e Segurança, que têm uma posição na sede do distrito.

"Ninguém morreu, felizmente. Eles dizem estar do lado do povo e voltaram a declarar guerra contra os nossos militares. Dizem eles que os militares é que os perseguem sem motivo. Eu não acredito nisso", disse outro residente de Quissanga.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.

Após um período de relativa estabilidade, nas últimas semanas, novos ataques e movimentações foram registados em Cabo Delgado, embora localmente as autoridades suspeitem que a movimentação esteja ligada à perseguição imposta pelas Forças de Defesa e Segurança nos distritos de Macomia, Quissanga e Muidumbe, entre os mais afetados.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

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