O mural de 10 metros de largura "O Jardim de Crivelli", criado entre 1990 e 1991, vai ser reunido também pela primeira vez com o retábulo "La Madonna della Rondine", elaborado no século XV por Carlo Crivelli, que inspirou a pintora portuguesa.

Na exposição, aberta de quinta-feira até 29 de outubro, vão estar ainda quatro esboços iniciais e oito desenhos a carvão de pessoas que serviram de modelos, nomeadamente amigas, familiares e funcionárias do museu.

O mural foi encomendado para uma parede do restaurante da ala moderna do museu inaugurada em 1991, durante uma residência artística de Paula Rego na National Gallery para produzir novas obras de arte inspiradas na coleção.

O programador da exposição, Priyesh Mistry, contou hoje, durante uma apresentação, como Paula Rego inicialmente recusou o convite para ser a primeira artista residente do museu, alegando que a coleção era demasiado masculina.

No entanto, dias mais tarde reconsiderou, e Mistry afirmou que "O Jardim de Crivelli" é um reflexo de como a portuguesa decidiu "subverter e recriar algumas das obras históricas sob a perspetiva de uma mulher e pintora europeia".

No mural em tinta acrílica sobre tela, Rego imaginou a casa e jardim de Carlo Crivelli, pintor italiano especialista em quadros para altares representando vidas de santos, mas dando protagonismo a personagens femininas da Bíblia, das mitologias romanas e gregas e de lendas medievais.

No mural estão representadas, entre outras, Virgem Maria, Santa Catarina, Maria Madalena e Dalila, cujos retratos foram inspirados em pessoas que privavam com a artista na altura.

Uma dessas modelos foi a historiadora de arte Ailsa Turner, que trabalhava no departamento de educação da instituição, e que se revê em várias das figuras.

"Ela era muito concentrada e eficiente a trabalhar e às vezes quando nos mexíamos ela pedia para mantermos aquele gesto. Por exemplo, a mão da Virgem Maria é minha", contou hoje à agência Lusa.

Outra cena de uma mulher e criança foi inspirada numa fotografia da própria Paula Rego com a filha Cassie.

O programador, Priyesh Mistry, revelou que Paula Rego soube da realização desta exposição antes de morrer em 08 de junho de 2022, com 87 anos.

A exposição, vincou hoje, é uma forma de "celebrar esta pintura notável e monumental e dar-lhe um pouco de destaque", salientando a referência às origens portuguesas da artista.

"Ela baseou esta ideia do jardim e do cenário na estética do seu país, os emblemáticos azulejos azuis e brancos portugueses", afirmou.

Colin Wiggins, que acompanhou a artista durante o processo de criação entanto funcionário do museu, saudou o facto de o mural ter sido "libertado do restaurante da National Gallery" e urgiu o museu a manter a obra em exposição permanente.

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