"Creio que não é bom tempo para falar de eleições. As eleições, como se sabe, ainda não fecharam. Ainda vamos ter, portanto, eleições em alguns locais, de acordo com a decisão do Conselho Constitucional. Penso que o mais importante é que o processo seja concluído e que efetivamente as coisas voltem à normalidade", respondeu a ministra à agência Lusa, na sede da ONU em Nova Iorque, onde participou numa reunião de alto nível sobre o Fundo Central de Respostas a Emergências (CERF) para 2024.

"Não me parece que seja um problema tão grave da comunidade internacional. Nós não temos sentido na nossa terra tanta pressão da comunidade internacional", avaliou, frisando que a comunidade internacional sabe que o assunto deve ser tratado "pelas instituições moçambicanas e pelos moçambicanos".

No mês passado, a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicana reuniu-se com várias missões diplomáticas e transmitiu-lhes que acredita que o processo das sextas eleições autárquicas vai "terminar bem", pedindo que a comunidade internacional confie nas instituições do país para resolver os diferendos.

"Temos fé que este processo, como os anteriores, vai terminar bem pois os moçambicanos querem a paz e desenvolvimento do país", foi a mensagem que Verónica Macamo transmitiu, disse aos jornalistas José Matsinhe, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, citando a chefe da diplomacia, depois de uma reunião à porta fechada, em Maputo, com as missões diplomáticas representadas em Moçambique, entre as quais do Brasil, Itália, Angola, África do Sul, França, Quénia, Rússia, Japão e China.

Já o presidente da Renamo, principal partido da oposição moçambicana, Ossufo Momade, acusou Verónica Macamo de "intimidação ao corpo diplomático" e de fraude nas eleições autárquicas de 11 de outubro.

"Porque o partido Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder] tem consciência da sua amarga derrota, assistimos, muito recentemente, à mandatária deste partido vestida de capa de ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação a intimidar o corpo diplomático acreditado na República de Moçambique e das organizações internacionais para não manifestar as suas posições em relação à fraude eleitoral", disse Ossufo Momade na ocasião.

O líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) falava durante uma conferência de imprensa em que anunciou que o principal partido da oposição não reconhece os resultados das eleições autárquicas de 11 de outubro proclamados pelo Conselho Constitucional (CC).

A comunidade internacional, prosseguiu Momade, não deve ceder a "ameaças" alegadamente feitas pelas autoridades moçambicanas, porque "acima da Frelimo está o povo moçambicano e os seus interesses".

O CC proclamou em 24 de novembro a Frelimo vencedora das eleições autárquicas em 56 municípios, contra os anteriores 64, com a Renamo a vencer quatro, e mandou repetir eleições em outros quatro.

O CC é o órgão de última instância da justiça eleitoral com competência para validar as eleições em Moçambique.

As ruas de algumas cidades moçambicanas, incluindo Maputo, têm sido tomadas por consecutivas manifestações da oposição contra o que consideram ter sido uma "megafraude" no processo das eleições autárquicas e os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), fortemente criticados também pela sociedade civil e organizações não-governamentais.

Os Estados Unidos da América reconheceram em 16 de outubro a "credibilidade" aos relatórios sobre "irregularidades" nas eleições autárquicas moçambicanas, pedindo que as autoridades do país considerem todas as queixas apresentadas.

O Governo norte-americano pediu que as autoridades eleitorais, os tribunais locais e o Conselho Constitucional de Moçambique levem "a sério todas as queixas de irregularidades" e sejam imparciais na sua atuação.

MYMM (PMA/LN) // MLL

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