"Infelizmente, três membros da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] foram alvejados, um dos quais perdeu a vida e dois continuam no hospital", afirmou Pascoal Ronda, em declarações ao canal estatal Televisão de Moçambique (TVM).

Ronda avançou que cinco pessoas estão detidas e o Ministério Público está a investigar as circunstâncias dos referidos incidentes, ocorridos na quinta-feira, no município de Angoche, província de Nampula, norte de Moçambique.

O governante declarou que a polícia disparou "para o ar com balas reais", para impedir que os membros da Renamo atacassem uma esquadra em Angoche, com catanas, paus e pedras.

Pascoal Ronda disse que os agentes também usaram balas de borracha visando impedir que os manifestantes depositassem na sede da administração do distrito uma urna coberta com uma bandeira da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.

"O delegado distrital da Renamo mobilizou os seus simpatizantes para carregarem ou transportarem consigo um caixão coberto pela bandeira da Frelimo e a intenção era depositar na administração, como forma de repúdio aos resultados das eleições", acrescentou.

A polícia, prosseguiu, desaconselhou a prática dessa ação, mas os manifestantes preferiram usar a violência, atirando pedras e paus contra as autoridades.

"A Polícia da República de Moçambique interveio para, de forma civilizada, apelar para uma atitude mais correta, mas eles reagiram de forma não correta", enfatizou o ministro do Interior.

Na sexta-feira, a polícia moçambicana acusou simpatizantes da Renamo de tentarem invadir o edifício do governo distrital em Angoche durante a manifestação contra os resultados eleitorais, justificando a carga policial, que deixou vários feridos, com a necessidade garantir a ordem.

"Os membros e simpatizantes do partido Renamo desobedeceram aos preceitos legais que norteiam a realização de qualquer tipo de manifestação, iniciando com atos de violência, portando objetos contundentes (...) Estes arremessaram pedras contra a polícia e tentaram invadir o edifício do governo local", declarou Zacarias Nacute, porta-voz da corporação durante uma conferência de imprensa sem espaço para perguntas.

Também na quinta-feira, a Organização Não-Governamental (ONG) Centro de Integridade Pública CIP), que observa o processo eleitoral, afirmou que a Polícia da República de Moçambique baleou oito manifestantes durante as escaramuças.

As ruas de algumas cidades moçambicanas, incluindo Maputo, têm sido tomadas por consecutivas manifestações da oposição contra o que consideram ter sido uma "megafraude" no processo das eleições autárquicas de 11 de outubro e os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que atribuiu a vitória à Frelimo em 64 das 65 autarquias do país.

Os resultados anunciados têm sido fortemente criticados pelos partidos da oposição, sociedade civil e organizações não-governamentais.

A Renamo, que nas anteriores 53 autarquias (12 novas autarquias foram criadas este ano) liderava em oito, ficou sem qualquer município, apesar de reclamar vitória nas maiores cidades do país, com base nas atas e editais originais das assembleias de voto, tendo recorrido para o Conselho Constitucional, última instância de recurso no processo eleitoral.

Alguns tribunais distritais chegaram a reconhecer irregularidades no processo eleitoral e ordenaram a repetição de vários atos eleitorais, enquanto na rua se realizam regularmente manifestações de contestação aos resultados anunciados.

PMA (EAC) // FPA

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