"Manifestamos a nossa profunda preocupação com a guerra em curso contra a Ucrânia, que continua a causar imenso sofrimento humano e está a agravar as fragilidades existentes na economia mundial, restringindo o crescimento, aumentando a inflação, perturbando as cadeias de abastecimento, aumentando a insegurança energética e alimentar e elevando os riscos para a estabilidade financeira", indicam os mais de 50 chefes de Governo e de Estado na declaração final da cimeira UE-CELAC, que decorreu em Bruxelas.

Esta posição foi "aprovada por todos os países, com uma exceção devido ao seu desacordo com um parágrafo", segundo a informação colocada no final do documento, numa alusão à oposição da Nicarágua a esta posição sobre a guerra da Ucrânia.

Apoiando a "necessidade de uma paz justa e sustentável", a declaração final faz ainda referência aos esforços do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para prorrogação do acordo que permite a passagem de cereais no Mar Negro, entretanto suspenso.

Depois de quase uma semana de negociações intensas ao nível dos embaixadores, a cimeira UE-CELAC foi marcada, nestes dois dias, pela falta de consenso sobre a referência à guerra da Ucrânia na declaração final entre os blocos.

Por essa razão, optou-se por não colocar qualquer referência à Rússia, apesar da intenção inicial da UE de "deplorar com a maior veemência a agressão da Federação Russa" e exigir a sua "retirada total e incondicional" do território ucraniano, segundo um anterior rascunho, a que a Lusa teve acesso.

Aquela que foi a primeira cimeira UE-CELAC em oito anos e que juntou em Bruxelas mais de 50 líderes de ambos os blocos regionais foi marcada pelos diferentes pontos de vista sobre a guerra da Ucrânia, nomeadamente da Venezuela, Cuba e Nicarágua, sendo que foi este último país quase bloqueou a declaração final, que reuniu consenso à última hora.

O primeiro-ministro português, António Costa, destacou "a consensualização" na cimeira da UE com a CELAC para manifestar preocupação sobre a guerra da Ucrânia, apesar desta exceção da Nicarágua.

Esta que foi a terceira cimeira da UE com a CELAC, oito anos depois da reunião de 2015, focou-se no reforço da parceria entre as duas regiões para as preparar para novos desafios.

Ainda assim, o passado colonial europeu foi abordado nesta declaração final, numa referência histórica já que os líderes de ambos os blocos "reconheceram e lamentaram profundamente o sofrimento indescritível infligido a milhões de homens, mulheres e crianças em resultado do tráfico transatlântico de escravos".

Também mencionada foi a situação na Venezuela, apelando-se a um "diálogo construtivo entre as partes nas negociações [...] na Cidade do México".

Inicialmente, a referência ao acordo da UE com o Mercado Comum do Sul (Mercosul) - formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai - também gerou controvérsia, mas a declaração final refere apenas que os líderes "tomam nota do trabalho em curso".

A atual presidência espanhola da União espera que esta cimeira seja um ponto de partida para desenvolvimentos na conclusão do acordo UE-Mercosul, que abrange 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial.

Desta cimeira UE-CELAC, sai ainda o compromisso de que os dois blocos se reúnam com mais regularidade, de dois em dois anos, estando a próxima cimeira prevista para a Colômbia em 2025.

ANE // JH

Lusa/fim