De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, Patrick Pouyanne disse aos analistas que considerava que a situação de insegurança que levou à suspensão dos trabalhos em 2021 "melhorou claramente", o que permite o recomeço dos trabalhos na província de Cabo Delgado ainda este ano.

Com o novo calendário agora em cima da mesa, o início da produção de gás num projeto de 20 mil milhões de dólares poderá acontecer em 2028, e dá um novo ânimo para o aumento dos pagamentos dos juros da dívida de 900 mil milhões de dólares, cujos juros passarão de 5% para 9% a partir de março do próximo ano.

"O recomeço dos projetos de gás natural liquefeito (GNL) é crucial para os títulos de dívida", comentou o chefe de investimentos na Capitulum Asset Management, Lutz Roehmeyer, uma gestora de fundos com sede em Berlim.

"Sem o recomeço das obras, uma nova reestruturação da dívida só é evitável se os mercados de capitais voltarem a abrir-se para África", acrescentou o gestor de investimentos.

A notícia do recomeço das obras surge na semana seguinte à agência de informação financeira Moody's ter piorado a perspetiva de evolução da economia, de positiva para estável, mantendo o 'rating' oito níveis abaixo da recomendação de investimento.

Mesmo com um programa de apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI), as finanças de Moçambique continuam pressionadas, havendo registo de atrasos no pagamento da dívida interna e de dificuldades para pagar aos funcionários públicos.

Os chamados 'títulos do atum', originalmente emitidos pela Ematum, foram convertidos em dívida pública em 2019 no seguimento do escândalo das dívidas ocultas, quando se descobriu que os empréstimos foram avalizados pelo Estado, mas não foram divulgados a nenhuma entidade pública ou internacional.

Na sequência da primeira notícia sobre o tema, divulgada pelo Wall Street Journal em abril de 2016, o país afundou-se numa crise económica e financeira, falhando pagamentos da dívida e as agências de notação financeira desceram o rating para 'default', na mesma altura em que os doadores internacionais cortaram o financiamento direto ao Orçamento, prática que Portugal, por exemplo, mantém até hoje.

A reestruturação da dívida em 2019 está diretamente ligada à produção do gás natural, já que adiou durante cinco anos o aumento dos juros até ao início da comercialização do gás, que foi um dos principais argumentos para convencer os investidores a aceitarem a reestruturação.

Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.

Dois desses projetos têm maior dimensão e preveem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.

Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após um ataque armado a Palma, em março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura.

O outro é o investimento ainda sem anúncio à vista liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).

Um terceiro projeto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, diretamente no mar, que arrancou em novembro de 2022.

A plataforma flutuante deverá produzir 3,4 mtpa (milhões de toneladas por ano) de gás natural liquefeito, a Área 1 aponta para 13,12 mtpa e o plano em terra da Área 4 prevê 15 mtpa.

A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

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