"A humildade a que me refiro passa necessariamente por reconhecer os erros cometidos pela Frelimo e, se necessário, pedir desculpas" e "passa por nos distanciarmos do grupo minoritário que assaltou parte da máquina do partido", refere Graça Machel, numa carta a que a Lusa teve hoje acesso.

O partido deve "reconhecer e aceitar as vitórias" que obteve "honestamente e reconhecer e aceitar honestamente as derrotas onde as houver", continua o texto de Graça Machel, ex-membro do Comité Central da Frelimo e antiga ministra da Educação.

Grupos de observação eleitoral, sociedade civil, partidos da oposição e várias figuras consideram que as eleições autárquicas de 11 de outubro foram fraudulentas, favorecendo a Frelimo, que ganhou em 64 das 65 autarquias do país.

Para Graça Machel, viúva do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel (29 de setembro de 1933 - 19 de outubro de 1986), "a inércia, inação e complacência dos quadros [do partido] permitiu que se gerasse e consolidasse a narrativa de que a Frelimo é formada por ladrões, assassinos e arrogantes".

Na qualidade de militante, diz que subscreve a proposta defendida por alguns membros do partido de realização urgente de uma reunião nacional de quadros para uma reflexão, de forma aberta, da vida do partido.

A reunião, prossegue, serviria para encontrar caminhos que levasse à recuperação da confiança, credibilidade e química com o povo.

"Assistimos, nos últimos anos, à captura da máquina administrativa do partido por uma fração de membros, responsáveis pela erosão e desvirtuamento da razão e sentido de ser da Frelimo", lê-se no documento.

Esse grupo minoritário tem uma agenda própria, "que age em nome da Frelimo, mas contra a própria Frelimo", refere Graça Machel, atualmente presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC).

Graça Machel sustenta que a apropriação do partido por uma minoria levou a dificuldades em manter-se como "um partido de massas".

Na segunda-feira, o ex-Presidente moçambicano Joaquim Chissano afirmou que os assuntos da Frelimo, partido que liderou, devem ser tratados internamente, e que só vai comentar o processo eleitoral autárquico depois das decisões finais do Conselho Constitucional.

"Assuntos da Frelimo, em sede própria, não é aqui. Porque aqui estou a falar para a América, estou a falar para Austrália, não. Eu quero falar com os moçambicanos, em Moçambique, e sobretudo para os membros da Frelimo, portanto não é aqui", afirmou Chissano, questionado pelos jornalistas sobre as críticas internas no partido no poder ao processo envolvendo as eleições autárquicas de 11 de outubro.

"Este assunto, eu vou começar a pensar nele depois de ouvir o que vai dizer o Conselho Constitucional. Por enquanto estou em silêncio. E quando ouvir o Conselho Constitucional então vou saber. Porque eu não gosto de agir com precipitação", disse ainda Chissano, chefe de Estado de 1986 a 2005.

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