"Ainda bem que se chegou a um ponto final, já se estava a prever isso há muitos anos. Agora é o momento para pararmos e pensarmos no conjunto, na área que vai desde a Praia Negra até Quebra Canela. É uma grande oportunidade para a cidade da Praia, para a ilha de Santiago e para Cabo Verde", declarou o presidente daquela associação, Eugénio Inocêncio.

A opinião surge após o grupo Macau Legend Development, do empresário David Chow, ter abandonado a construção de um complexo turístico na Gamboa e no ilhéu de Santa Maria, que é considerado um "ex-líbris" da cidade da Praia.

O empreendimento, que estava orçado em 250 milhões de euros e era o maior a nível turístico de Cabo Verde na altura, incluía hotel com 250 quartos, marina, centro de convenções, casino, piscina, restaurantes e bares, ocupando uma área de 152.700 metros.

Para Eugénio Inocêncio, a sua lentidão -- a primeira pedra foi lançada em fevereiro de 2016 -- condicionou todo o desenvolvimento turístico da ilha de Santiago e da cidade da Praia.

O dirigente recordou que há um estudo, feito há cerca de 10 anos por uma empresa internacional, que concluiu que, em termos turísticos, a capital do país também pode ser um destino de sol e praia, aproveitando a orla que vai desde a Praia Negra até Quebra Canela, passando pela Gamboa e Prainha, e incluindo o Farol Maria Pia.

Por isso, declarou-se satisfeito com o fim do projeto e disse que a associação que dirige está disponível para dar a sua opinião sobre o destino a dar ao local, atualmente vedado com chapas metálicas e onde foi construído o hotel, que está fechado, e a ponte de acesso ao ilhéu.

"Não o que fazer com o projeto em si, mas, muitíssimo mais do que isso: a perspetiva de transformação da cidade da Praia num destino turístico de sol e mar", sugeriu o também economista.

"A conceção desse espaço tem que estar incluída na conceção da orla marítima da cidade da Praia. Não se pode pensar numa região que tem um potencial grande individualizando uma faixa, mesmo que essa faixa seja muito importante", salientou.

Quem também quer aproveitar esta oportunidade para organizar a frente marítima da Praia é o presidente da Pró-Praia, uma associação que defende os interesses da capital do país.

José Jorge Pina disse esperar que, desta vez, se trabalhe mais num projeto de exploração de toda a orla marítima da cidade da Praia, que, afirmou, está "mal ocupada".

Além do hotel-casino, o presidente da Pró-Praia apontou vários outros grandes projetos considerados estruturantes para a capital do país, alguns dos quais não chegaram nem a arrancar, tornando o desenvolvimento turístico e industrial na cidade "ingrato".

O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, anunciou na quinta-feira que o Governo vai reverter a concessão do projeto e depois procurar outro destino para o investimento.

Numa entrevista à televisão de Hong Kong TVB, transmitida na noite de quarta-feira, o presidente e diretor executivo da Macau Legend Development, Li Chu Kwan, anunciou que o grupo pretende encerrar as operações tanto em Cabo Verde como no Camboja até 2025.

A empresa recebeu uma licença de 25 anos do Governo de Cabo Verde, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago, e uma licença especial para explorar, em exclusividade, jogo 'online' em todo o país e o mercado de apostas desportivas durante dez anos.

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