"Este estudo identifica um aumento nas despesas com a segurança nacional", totalizando um valor estimado de 106.800 milhões de meticais (1.530 milhões de euros), entre 2018 e 2022, refere-se no estudo "Revelando os custos da guerra em Cabo Delgado", lançado hoje em Maputo.

Em termos desagregados, os encargos com a defesa registaram uma subida acumulada de 43.600 milhões de meticais (628 milhões de euros) e a segurança e ordem pública teve um aumento de 60.400 milhões de meticais (870 milhões de euros), desde o início dos ataques terroristas, em outubro de 2017, naquela província do norte de Moçambique, lê-se na análise.

"Curiosamente, as alocações para os serviços de informações foram menos diretamente afetadas, apesar da escalada da violência e dos ataques terroristas, o que indica a potencial influência de outras considerações políticas relativamente a esta rubrica de despesas", indica-se no estudo.

No documento refere-se ainda que a suspensão do projeto do consórcio da multinacional francesa TotalEnergies, na sequência de um ataque armado em março de 2021, resultou numa perda de 383.400 milhões de meticais (5.500 milhões de euros) em potenciais receitas fiscais.

As despesas adicionais com segurança nacional relacionadas com o conflito e as receitas perdidas com o projeto de gás totalizam cerca de 490.200 milhões de meticais (sete mil milhões de euros), diz o estudo.

Rui Mathe, pesquisador do CIP que apresentou o estudo, disse aos jornalistas que o aumento de verbas para o setor de defesa na província de Cabo Delgado resultou na redução de recursos para área sociais como educação, saúde e infraestruturas.

"Ao levar-se recursos que deveriam ser para outros setores sociais para fazer face à guerra, esses vão ficar predicados", afirmou Mathe.

Aquele pesquisador apontou dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) que referem que o índice de analfabetismo em Cabo Delgado aumentou para 61% contra 52% antes da eclosão do conflito armado.

Rui Mathe assinalou que o Governo deve combinar o esforço de restauração da paz em Cabo Delgado com a dinamização do tecido social e económico para que o país siga uma trajetória de crescimento.

Mathe reconheceu que a opacidade do executivo moçambicano em relação às despesas com o setor da defesa e segurança limita o conhecimento da dimensão real dos custos da guerra em Cabo Delgado, sendo a informação disponível baseada na Conta Geral do Estado e noutros documentos publicados.

Desde 2017, o conflito no norte de Moçambique fez mais de um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, de acordo com o projeto de registo de conflitos ACLED.

Na província de Cabo Delgado combatem o terrorismo as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da missão da SADC.

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