O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) estimou, no último censo realizado em 2022, que cerca de 29,5 milhões de pessoas vivem na Amazónia Legal (composta pelos estados brasileiros do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins).

Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgados hoje mostram que 22 organizações criminosas atuam em pelo menos 178 municípios da Amazónia Legal, número que corresponde a 23,05% do total de 772 municípios que existem nessa região.

Os investigadores responsáveis pelo levantamento 'Cartografias da violência na Amazónia' frisaram também que "não há como debater estratégias e políticas para manter a floresta amazónica de pé sem considerar a grave ameaça que o crime e a violência representam na região hoje".

O aumento da violência é promovida pela expansão de fações criminosas provenientes, principalmente, de São Paulo e do Rio de Janeiro, que atuam fortemente no tráfico internacional de drogas, o que resultou no fortalecimento e profissionalização dos grupos criminosos locais.

"Novas rotas criminosas foram surgindo, bem como articulações com outros ilícitos, como a mineração ilegal e os crimes ambientais, impondo enormes desafios às instituições responsáveis pela manutenção da lei e da ordem", apontou o relatório.

Os dados do relatório também mostraram que a taxa de mortes violentas intencionais no Brasil no ano passado foi de 23,3 mortes por 100 mil habitantes, enquanto nas cidades que compõem a Amazónia Legal a taxa registada foi de 33,8 por 100 mil, ou seja, a taxa média de violência letal na Amazónia foi 45% superior à média nacional brasileira.

Um dos maiores problemas da região é a dificuldade em fiscalizar a imensa faixa de fronteira que separa o Brasil dos países que estão entre os maiores produtores de cocaína (Peru, Colômbia e Bolívia).

"Os espaços fronteiriços na região amazónica são lugares de mobilidade populacional (fluxos migratórios), transações comerciais legais e clandestinas e espaços de disputas territoriais entre grupos criminosos do Brasil e dos países fronteiriços", destacou o documento.

"Dado que o Brasil procura assumir o protagonismo geopolítico na América do Sul exatamente a partir da agenda socioambiental, a integração entre agências dos países panamazónicos para a segurança pública e o desenvolvimento também precisa considerar a coordenação da presença das instituições governamentais nas fronteiras, em especial das forças policiais e das Forças Armadas de todas as nações com territórios na Amazónia", acrescentou.

Nos últimos quatro anos (2019 a 2022), a apreensão de drogas pelas polícias locais nos estados da Amazónia disparou 194,1%, enquanto as apreensões de drogas realizadas pela polícia Federal na mesma região e período subiram 184,4%.

Segundo o relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse indicativo comprova a relação entre o aumento do tráfico e da expansão das organizações criminosas na maior floresta tropical do planeta.

Houve também um aumento de crimes ambientais. Os dados reunidos mostram que a taxa de crimes ligados ao desflorestamento ilegal na Amazónia brasileira, entre 2018 e 2022, cresceu 85,3%, com 619 registos criminais, os incêndios criminosos 51,3%, com 581 registos, e as multas de infração ambiental 40,1%, com 7.919 infrações registadas no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

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