"Tenho colegas que estão com problemas de saúde, não estão sendo operados porque não tiveram os seus salários" para custear as despesas, disse Bernardino Rafael, durante uma parada no distrito de Nangade, em Cabo Delegado, no norte do país.

Um problema com o sistema informático e no enquadramento dos funcionários do Estado em Moçambique, no âmbito da implementação da nova Tabela Salarial Única (TSU), está a provocar atrasos no pagamento de salários à Função Pública, admitiu, em julho, o Governo.

Segundo Bernardino Rafael, há ainda agentes da polícia moçambicana que foram expulsos das casas que arrendavam e outros cujos filhos não puderam realizar as avaliações escolares porque os seus pais "não pagaram as propinas".

"Eu estou ciente de tudo isso", vincou o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), reconhecendo que há "alguma coisa errada" na aplicação da nova tabela salarial, mas que está a ser corrigida.

"Peço mais uma vez calma e que nos deem um voto de confiança [...] eu não tenho a quem mais defender a não ser a polícia", declarou o responsável, referindo que foi apresentada uma proposta ao Ministério da Economia e Finanças para resolver o problema dos atrasos.

A TSU foi aprovada em 2022 por forma a eliminar assimetrias e manter a massa salarial do Estado sob controle a médio prazo, mas o arranque fez disparar os salários em cerca de 36%, de 11,6 mil milhões de meticais/mês (169 milhões de euros/mês) para 15,8 mil milhões de meticais/mês (231 milhões de euros/mês).

A nova matriz salarial no Estado tem 21 níveis, entre 8.756 e 165.758 meticais (entre 134 e 2.580 euros), em vez de 103 escalões, como ocorria anteriormente.

A implementação da nova tabela salarial na função pública está a ser alvo de forte contestação por parte de várias classes profissionais, com destaque para os médicos, juízes e professores.

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