Numa carta dirigida aos vereadores das câmaras municipais de Lisboa e de Loures, hoje divulgada, aquela associação cívica elenca três razões para discordar da decisão, anunciada na sexta-feira pelo executivo de Carlos Moedas, de batizar a nova ponte ciclopedonal entre os dois concelhos de "Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente".

Para a associação, o cardeal Manuel Clemente "chocou a opinião pública com a sua atitude complacente e conivente perante o abuso sexual de menores por parte de eclesiásticos".

Além disso, acrescenta, a escolha do nome representa uma "clericalização simbólica" de um espaço que "foi prometido como não sendo definitivamente religioso", depois de ter sido um dos palcos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ); e homenageia uma personalidade ainda viva, "cujo legado não pode portanto ser avaliado de forma definitiva".

Na carta, assinada por Ricardo Gaio Alves e Rodrigo Brito, da direção da associação, é proposto aos vereadores das duas autarquias que se oponham à atribuição daquela designação.

Esta carta junta-se a uma petição pública, lançada no sábado por vários cidadãos que criticam a câmara municipal de Lisboa de ter escolhido o nome do cardeal para aquela estrutura de ligação das duas margens do rio Trancão, que desagua no rio Tejo.

Às 22:30 de hoje, a petição já reunia 11.659 assinaturas, as suficientes para que seja debatida na Assembleia da República, cumprindo-se um dos objetivos dos promotores da iniciativa.

A petição foi lançada no sábado através da rede social X (antigo Twitter) por Telma Tavares, autora dos cartazes em memória das vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja Católica que foram colocados em Lisboa, Loures e Algés durante a JMJ, que decorreu no início do mês.

Na petição é invocada "a suposta laicidade do Estado" e questionado se a atribuição do nome de Manuel Clemente à ponte "pode ser vista até como uma ofensa e/ou desrespeito pelas mais de 4800 vítimas de abuso sexual por parte da igreja em Portugal".

"Sendo a ponte um dos equipamentos que foi pago com recurso a dinheiros públicos, que todos os portugueses irão pagar com assinalável esforço, o mínimo exigível será que se homenageie quem tenha factualmente marcado a diferença ou sido autor de feitos que mereçam destaque no nosso município", lê-se no texto.

Na sexta-feira, quando anunciou o nome para a nova ponte, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, dizia, em comunicado, que era "uma justa homenagem da cidade a um homem que deu tanto a Lisboa ao longo da sua vida".

Segundo a câmara de Lisboa, o nome da ponte foi comunicado ao presidente da autarquia de Loures, Ricardo Leão (PS), que considerou tratar-se de "uma boa opção e um justo reconhecimento".

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