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Newsletter diária • 15 mai 2023

 
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Portugal está com mau ambiente

 
 

Edição por Ana Maria Pimentel

De fatos brancos, 150 manifestantes juntaram-se este fim-de-semana, no terminal de gás de Sines, para exigir justiça climática e o fim dos combustíveis fósseis. Para os ativistas "Gás é morte, morte é Gás" e, por isso, exigem o fim do gás fóssil e que a produção de eletricidade passe a ser produzida por fontes de energia renovável até 2025.

Este protesto aconteceu num fim-de-semana em que os termómetros voltaram a passar os 30 graus, num país cujo território continental está 89% em seca, 34% do qual em seca severa e extrema, segundo o IPMA. Depois de o mês de abril ter sido o quarto abril mais quente desde 1931 (o mais quente foi em 1945), e tendo sido registadas três ondas de calor no território continental, que afetaram as regiões do interior Norte e Centro, vale do Tejo, Alentejo e Sotavento Algarvio.

Por isso, se há coisa em que os jovens manifestantes têm razão é na urgência de se discutir o tema do clima de forma séria. Se há uns anos se falava nas consequências das alterações climáticas a longo prazo, agora o discurso já nem é a curto prazo, é no presente. A RTP, por exemplo, noticiou este fim-de-semana que em 2022 foi autorizado o abate de mais de 100.200 sobreiros em Portugal. Mais de metade por causa da seca, e este ano a expectativa é que o número agrave. O que acontece é que as elevadas temperaturas, e a falta de água, fazem com que as árvores comecem a abortar. Além de que por causa da seca, tornam-se menos resistentes a doenças. E, por fim, a falta de humidade diminui a extração de cortiça.

Já na semana passada, o SAPO24 tinha falado com João Santos, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), e investigador no Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), considerado um dos investigadores mais influentes do mundo em matérias de alterações climáticas.

Na conversa com o jornalista Gonçalo Lopes, o investigador deixou um alerta, "Neste momento, a preocupação maior nem é tanto nas culturas, mas sim nas regiões. Há barragens, como as do Barlavento algarvio e do sudoeste alentejano, com níveis demasiado baixos. Essas zonas serão primeiramente as mais afetadas, todas as culturas ali presentes poderão ser duramente afetadas. A prioridade será sempre o consumo humano, essa é a prioridade absoluta. Veja-se que no Algarve, por exemplo, muito recentemente foi cortada a rega para os laranjais, tudo por uma questão de poupança para consumo humano."

A solução também passa por uma adaptabilidade e uma maior consciência. O SAPO24 foi ainda à procura do que tem sido feito para aproveitar águas, desde programas educacionais para os mais novos, ao aproveitamento das águas residuais para rega de jardins públicos, ou até à recolha de água das chuvas, há cada vez mais soluções criativas em curso para combater a seca. Há um farol em Portugal que é Guimarães, a candidatura do Município de Guimarães foi uma das 25 escolhidas pelo projeto NetZeroCities para testar novas formas de descarbonização. Através do programa Pilot Cities, 53 cidades europeias serão, ao longo de dois anos, laboratório de testes para novas abordagens à transição climática urbana. O SAPO24 conversou com a Vereadora Sofia Ferreira sobre os 990 mil euros para descarbonização.

Atento ao problema, o Governo também já começou a tomar algumas medidas. A partir de hoje, por exemplo, há uma proibição temporária de instalação de novas estufas e plantação de culturas permanentes nas áreas agrícolas da zona do Mira. Esta proibição está em curso até a albufeira de Santa Clara, tenha os níveis de água repostos.

O cenário traça-se cada vez mais negro e preocupante, ao Público José Maria Rasquilha, vice-presidente da Associação Nacional de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), garante que "vamos ter a maior catástrofe de sempre desde que há registos sobre os impactos da seca" nos sectores da produção de cereais e pecuária.

Se por um lado, Portugal está na linha da frente da Europa na redução de consumo de gás, por outro o Governo tem consciência que em termos ambientais ainda há muito a fazer. Um estudo do Ministério do Ambiente reconhece que Portugal está atrasado em algumas frentes. Depois de a Agência Portuguesa do Ambiente e as associações de produtores de embalagens terem anunciado que o país está a recuperar 42% do lixo que produz. O Ministério do Ambiente foi estudar os números e concluiu que afinal o país recicla apenas 13% dos seus resíduos.

Ainda, na sexta-feira, no Porto, o Presidente da República alertou, durante a conferência "Cidade Azul", para as consequências sociais das alterações climáticas. “Temos de reforçar a coesão social. Se nós não corrigirmos as desigualdades, há uma fatia enorme da sociedade portuguesa que está condenada a sofrer as consequências das alterações climáticas de uma forma muito mais penosa do que os demais. Isso é uma injustiça”.

Marcelo Rebelo de Sousa pediu continuidade nas ações, pedagogia, sacrifícios e salientou a importância das energias renováveis. Neste último ponto, já hoje, Ana Fontoura Gouveia, Secretária de Estado da Energia, que acompanhara António Costa na visita à Islândia, considerou, em declarações à Lusa, que Portugal pode beneficiar com a experiência islandesa na área da geotermia, assinalando ainda que a Islândia quer expandir a sua produção eólica, constituindo uma oportunidade para empresas nacionais.