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Newsletter diária • 18 nov 2022

 
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Qatar, um erro chutado para canto

 
 

Edição por Tomás Albino Gomes

A escolha do Qatar, desde que o nome do emirado surgiu num envelope segurado por Joseph Blatter a dia 2 de dezembro de 2010, foi motivo de polémicas que nunca diminuíram de volume. Desde as suspeitas de corrupção na compra de votos a membros do comité FIFA para garantir a realização do torneio do país, às denúncias de membros do organismo e da própria organização catari, até à morte de milhares de trabalhadores nas construções de estádios, passando pela cultura de repressão de direitos humanos, sobretudo LGBT+ e das mulheres, um contraste brutal face às lutas pela inclusão e contra a discriminação que o futebol tem chamado a si, sobretudo na Europa.

A escolha de um país como o Qatar para receber o maior evento desportivo do mundo encaixa numa senda de utilização do futebol por regimes anti-democráticos e repressores ao longo da história do futebol, como foi o caso de Itália, em 1934, quando Benito Mussolini organizou o Mundial durante o regime fascista, como foi o caso da Argentina em 1978, quando organizou o torneio durante uma ditadura militar e onde se jogou a final a menos de um quilómetro do principal centro de tortura do regime e como foi o caso mais recente da Rússia envolta em casos de corrupção, interferência e de repressão.

Aliás, o “erro” de organizar o mundial de 2022 no Qatar foi admitido pelo próprio Blatter, presidente da FIFA em 2010, aquando da entrega da organização do Mundial ao emirado. Mas pelas razões erradas.

“É um país pequeno demais [o menor em tamanho desde a Suíça em 1954]”, disse Joseph Blatter sobre o Qatar, numa entrevista ao grupo de comunicação suíço Tamedia (TX Group), acrescentando que “o futebol e o campeonato do Mundo são grandes demais para isso”.

“Foi uma má escolha. E eu era responsável por isso como presidente na época”, assumiu Blatter, que disse que votou nos Estados Unidos, candidatura, entre outras cinco, derrotada na ronda final de votações. O ex-líder da FIFA nunca se referiu, todavia, às questões laborais e de direitos humanos no emirado, levantadas por diferentes organizações.

Na mesma entrevista, Blatter recordou, uma vez mais, uma reunião na semana anterior à votação entre o presidente da UEFA e vice-presidente da FIFA, Michel Platini, na residência oficial do então presidente Sarkozy, em que estava também presente o príncipe herdeiro do Qatar, agora emir, Tamim bin Hamad al-Thani.

Blatter repetiu que Sarkozy pressionou Platini, e novamente deu a sua versão de um telefonema que o antigo internacional francês lhe fez, após a reunião em Paris, dando conta de que o plano de votação para o Mundial tinha mudado. “Graças aos quatro votos de Platini e da sua equipa [UEFA], o Mundial de 2022 foi para o Qatar e não para os Estados Unidos. É a verdade”, disse Joseph Blatter sobre o resultado da votação de 14 a 8.

O peso do dinheiro catari, gerado pelo petróleo e pelo gás, e a abertura de novos mercados para os patrocinadores terá sido decisivo na atribuição da organização da prova, até porque do ponto de vista desportivo a seleção de futebol do país, na altura, encontrava-se na 113.ª posição do ‘ranking’ da FIFA - hoje no 50.º posto.

As suspeitas de irregularidades e compra de votos em favor da candidatura do rico emirado começaram a ganhar corpo logo após a entrega da organização do Mundial ao Qatar e, nos meses que se seguiram ao anúncio da FIFA, várias denúncias e investigações revelaram suspeitas de corrupção.

O avolumar de denúncias de compra de votos em favor do Qatar abalou a estrutura da FIFA, e conduziu uma investigação interna, com vários responsáveis detidos para averiguações, como o então presidente da UEFA, o francês Michel Platini, que estava prestes a ‘saltar’ para a liderança da FIFA.

Não é possível viver o torneio que, desportivamente, tem todos os motivos para ser o melhor Campeonato do Mundo de sempre, à margem de tudo o que o ensombra. Mas, ao que tudo indica, o torneio vai acontecer sem qualquer boicote. A ‘ultima dança’ de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, que disputam no emirado o último Mundial das carreiras; o novo e excitante Brasil, que canaliza entusiasmo como não fazia, talvez, desde que nomes como Kaká, Ronaldinho Gaúcho ou Ronaldo ‘o Fenómeno’ vestiam a camisola amarela; a super-França liderada pelo Bola de Ouro Karim Benzema e pelo jovem campeão mundial Kylian Mbappé, a - já não tão - surpreendente Dinamarca; uma Espanha e uma Alemanha à procura de se reencontrarem com os seus melhores momentos e um Senegal à espera de mostrar a sua força para além de Sadio Mané mereciam um palco melhor.

 
 
 
 

 
 

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