Os dados constam de um artigo publicado no blogue do Fundo Monetário Internacional (FMI), assinado por Parisa Kamali, Robin Koepke, Alessandra Sozzi e Jasper Verschuur, que destaca que os ataques no Mar Vermelho perturbam o comércio global.

“As nossas estimativas de trânsito de alta frequência indicam que o volume de comércio que passou pelo Canal de Suez caiu 50% em relação ao ano anterior nos primeiros dois meses do ano, e o volume de comércio que transitou em torno do Cabo da Boa Esperança aumentou cerca de 74% acima do nível do ano passado”, revelam.

Os rebeldes iemenitas, que têm laços estreitos com o Irão, intensificaram os ataques nos últimos meses no Mar Vermelho e no Golfo de Áden, importantes vias para o comércio mundial.

Alegam estar a agir em apoio dos palestinianos na Faixa de Gaza, onde a guerra entre Israel e o Hamas entrou hoje no quinto mês.

Os analistas salientam que nos últimos meses, o comércio global foi travado por perturbações em duas rotas marítimas críticas.

Os ataques a navios no Mar Vermelho reduziram o tráfego através do Canal de Suez, a rota marítima mais curta entre a Ásia e a Europa, através da qual normalmente passa cerca de 15% do volume do comércio marítimo global, levando diversas companhias as desviarem os navios para contornar o Cabo da Boa Esperança.

“Isso aumentou os prazos de entrega em 10 dias ou mais, em média, prejudicando empresas com ‘stocks’ limitados”, apontam.

Paralelamente, uma grave seca no Canal do Panamá levou as autoridades a impor restrições que reduziram “substancialmente as travessias diárias de navios desde outubro passado, abrandando o comércio marítimo através de outro ponto de estrangulamento importante que normalmente representa cerca de 5% do comércio marítimo global”.

Os analistas estimam que o volume do comércio em trânsito através do Canal do Panamá caiu quase 32% em janeiro e fevereiro deste ano face a igual período do ano passado.

Se “os efeitos em cascata” destas perturbações continuarem “poderão prejudicar temporariamente algumas cadeias de abastecimento nos países afetados e causar uma pressão ascendente sobre a inflação (em parte devido ao aumento dos custos de transporte)”, alertam.

Os analistas advertem também que as estatísticas oficiais sobre as importações e exportações registadas com base nos registos aduaneiros podem ser afetadas pelo impacto temporário da alteração de rota dos navios, tornando mais “difícil avaliar a dinâmica subjacente do comércio mundial e da atividade económica nos próximos meses”.

Como exemplo aponta os relatórios do comércio de mercadorias relativos a janeiro em diversos países de África, Médio Oriente e Europa, que podem indicar um abrandamento do crescimento das importações, “uma vez que algumas importações que normalmente teriam sido registadas em janeiro só foram entregues em fevereiro”.