Não é anormal ver líderes de grandes empresas a desfrutar de hobbies. David Solomon, CEO da Goldman Sachs, enquanto DJ D-Sol, passou por festivais de música como o Lollapalooza e Tomorrowland (até saírem notícias da “reforma” do artista por causa dos resultados menos positivos do banco); Mark Zuckerberg, além de ser cinturão azul de jiu-jitsu e andar por competições no tapete, já foi visto em vários eventos do UFC. E estes são apenas dois exemplos. Há muitos outros e a tendência nem vem de agora.

No entanto, serão certamente poucos os CEOs na posição de Nicolai Tangen, o “trillion-dollar man” norueguês que está à frente do Fundo Soberano da Noruega (FSN) desde 2020. Primeiro, porque deverá ser difícil encontrar alguém que esteja a gerir um fundo soberano de 1,6 biliões de dólares e com tempo para hobbies. Depois, porque esse mesmo hobbie o coloca num tête-à-tête com uma lista de pessoas que se confunde facilmente com uma lista estilo “os mais poderosos” de uma revista Forbes.

No podcast “In Good Company”, o anfitrião está numa condição sem paralelo. É o próprio que o admite ao The Wall Street Journal (WSJ). “Somos donos de todas estas empresas, temos grandes participações e temos acesso aos CEOs”.

Por “todas estas empresas”, Nicolai Tangen refere-se às quase 9.000 que estão de alguma forma ligadas ao FSN, cujos tentáculos parecem não ter fim e chegam à Apple, Nestlé, Microsoft, Samsung, entre muitas outras gigantes. E, ao ouvir o podcast, ficamos com uma visão mais aprofundada destas empresas, o papel FSN nessas mesmas empresas, além dos "segredos" e estratégias dos grandes CEOs.

  • O FSN gere as enormes receitas de petróleo e gás da Noruega. Em 2023, o fundo obteve 213 mil milhões de dólares de lucros.
  • Em média, o fundo detém 1,5% de todas as empresas cotadas do mundo.
  • Nicolai Tangen é conhecido pelas suas opiniões fortes — ainda há pouco tempo afirmou que os "americanos trabalham mais do que os europeus" porque são mais ambiciosos.

Convidados ou realeza empresarial?

Fazer scroll pela lista de episódios do podcast é um exercício que se recomenda. Não só porque impressiona, mas porque atesta ao poder que o fundo realmente tem — e onde percebemos que aquele “somos donos de todas estas empresas” não é mero exagero pavoneado.

Basta escolher um setor, do retalho à tecnologia, da banca ao automóvel, e pensar num líder. A seguir, é procurar pelo episódio de “In Good Company” e ouvir o fait-diver ou confidência íntima desse CEO. Porque o objetivo, segundo Tangen, também é esse: que o podcast seja uma coisa “pessoal”, para estar em linha com a missão do FSN: ser o fundo “mais transparente do mundo”.

  • Exemplos: Darren Woods, CEO da Exxon Mobil, considera-se um mestre da grelha. A carne predileta? Bife do lombo. Por seu turno, James Gorman, presidente e ex-CEO do Morgan Stanley, detalha como o stress do trabalho fez com que ficasse fisicamente doente. Com Satya Nadella (Microsoft), conversou sobre empatia e poesia. Há umas semanas, com Elon Musk, abordou o futuro da inteligência artificial, a exploração do espaço e de Marte, e até da liberdade de expressão. Daniel Ek, CEO do Spotify, apesar de valer milhões, confessou sentir “todos os dias” que devia ter sido “melhor”.

(Ainda) Não é um hit 

Para quem gosta de ouvir histórias do mundo de negócios e dos seus principais atores, este podcast do fundo soberano norueguês é uma doçaria difícil de resistir, mesmo para quem se encontra na mais restrita das dietas.

Afinal, não são todos os dias que ouvimos alguém a perguntar o que lhe apetece e quase sem filtros – Nicolai Tange não tem problemas em trazer a posição do fundo nestas empresas durante a conversa – a personalidades como Reed Hastings (Netflix), Bob Chapek (Disney), Larry Fink (BlackRock), Jensen Huang (Nvidia), Sam Altman (OpenAI), Marc Andreesen ou Jack Ma, só para citar alguns.

Os episódios não são longos, têm entre 30 a 45 minutos. E quando se diz que a lista de convidados impressiona, não é mero eufemismo. É assim desde que recebeu o primeiro convidado, em 2022 (o antigo diretor da BP, Bernard Looney).

O status VIP não parece chegar para colocar o podcast na ribalta, a julgar pelos números revelados pelo próprio anfitrião ao WSJ: cerca de 3 milhões de downloads no total. Nada que deva tirar o sono a Nicolai Tangen, Se há um podcast que não precisa de se preocupar com os investidores para continuar, deve ser este.

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