“Não foi um dia muito fácil para mim e para a equipa. Acho que nestes momentos é que temos de demonstrar a garra que temos dentro e a fortaleza para seguir em frente”, começou por dizer o ainda campeão em título da Volta, antes do início da sexta etapa da 84.ª edição, em Penamacor.

Foi um ‘Mauri’ visivelmente abatido que hoje, em declarações aos jornalistas, assumiu a derrota, após ter ‘naufragado’, na segunda-feira, na subida à Torre, onde chegou com mais de nove minutos de atraso para o vencedor e novo camisola amarela, o espanhol Delio Fernández (AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense).

“Há que ser realista. Não vou dizer que ainda estou na luta, porque não é assim. O Mauricio que veio aqui lutar pela geral da Volta já ficou para trás. Agora, tenho de estar 100% ao dispor da equipa, porque temos um objetivo, que é ganhar a Volta. Continua a ser o mesmo. Temos colegas que ainda podem conseguir esse resultado”, notou.

O uruguaio de 28 anos tem dificuldades em perceber o que aconteceu na quinta etapa, na qual quebrou logo na Covilhã, no início dos 20 quilómetros de subida até ao ponto mais alto de Portugal continental.

“Só sei que estava completamente debilitado. Já antes da subida não me vinha a sentir muito bem. A comida que metia no corpo parece que não dava energia. Como deu para ver, estava completamente vazio”, sustentou.

Quando cortou a meta, na Torre, Moreira teve de ser amparado, por não conseguir suster-se na bicicleta, sendo posteriormente examinado pela equipa médica, enquanto chorava compulsivamente, ciente de que não voltaria a vestir de amarelo no final da 84.ª edição.

Agora, o também vice-campeão da Volta2021 (o vencedor Amaro Antunes foi desclassificado por doping, mas a Federação Portuguesa de Ciclismo ainda não decidiu quanto à reatribuição do triunfo) está centrado em ajudar a equipa, considerando mesmo que lutar por etapas é “algo secundário”.

“Para mim, tanto faz perder nove minutos ao final da Volta como perder uma hora. É-me exatamente igual. O que quero é dar 100% pela equipa e se tiver de ficar parado na estrada, vou ficar. Vou fazer o trabalho que tenho de fazer, e se a etapa tem de acabar no quilómetro 100 porque não tenho mais força, porque trabalhei para a equipa, para mim já é como ganhar uma etapa”, garantiu.

Ainda física e emocionalmente abalado pela jornada de segunda-feira, ‘Mauri’ disse sentir-se cansado, depois de ter levado “o corpo mesmo ao limite”

“Passei uma noite um bocado difícil, bastante desidratado, mas estamos treinados para isto. Sei que hoje é voltar a sofrer”, acrescentou.

O uruguaio da Glassdrive-Q8-Anicolor admitiu que é “muito difícil aceitar que o corpo” não reagiu como quis, após “milhares e milhares de quilómetros treinados”.

“É isso que custa. Agora, é mudar o chip, tirar o chip de vencedor e meter o chip de gregário. Fazer esse trabalho, que é um trabalho que todos temos de saber fazer. E, mais do que tudo, a minha equipa e os meus colegas merecem que faça isso. E a mim vai-me encher de orgulho ter falhado numa coisa e ser útil noutra”, assegurou antes do início da sexta etapa, que vai ligar Penamacor à Guarda, no total de 168,5 quilómetros.