Fazer um Dakar continua a não ser uma tarefa fácil, mesmo que hoje haja mais comodidades. Em conversa com o SAPO24, Bruno Santos, que participou pela primeira vez na prova, fala numa "grande aventura, um grande objetivo alcançado, não sei bem como explicar. É muito duro, estás todos os dias sempre à beira do abismo e a pensar que pode acontecer alguma coisa. Foi muito bom terminar, aguentar a pressão diária. É um sabor imenso. Superou tudo aquilo que eu podia imaginar". 

Para a realizar o Dakar, Santos levou "seis fatos de competição, seis pares de calças, dois casacos de competição e dois capacetes. Umas ficavam piores, outras davam para ‘reciclar’ porque se se anda no pó aquilo fica tudo sujo", explicitou Santos. 

Depois de tudo preparado para a competição, explicou ao SAPO24 que um dos maiores desafios foi a etapa maratona onde os pilotos tiveram de dormir no deserto. Esta foi uma das novidades que a organização do Rally Dakar trouxe para a edição de 2024.

Numa etapa normal, era sempre importante ter "barras ou algum gel energético, água e também alguns medicamentos". Já na etapa maratona, explicou ao SAPO24 que os pilotos não levaram nada, "foi a própria organização que entregou a cada um uma tenda muito básica, daquelas mais baratas da Decathlon. Entregaram um saco cama e uma ‘ração de combate’, que é uma caixinha onde tínhamos dois ou três enlatados, água e uma espécie de acendalha para podermos aquecer aquelas latas". No que ao banho diz respeito, "uma pessoa já sabia que ia para aquilo (dormir no deserto, sem muitos confortos), então tinha uma toalhitas comigo, para estar preparado para o mais básico."

A aventura de Santos no Rally Dakar não foi solitária. Para tal, contou com a ajuda de Joana, "a minha mulher, que me acompanha nas corridas, desde a primeira prova que fiz de moto". Numa prova tão dura, foi "um grande pilar para mim porque me ajudou imenso em termos de organização, a manter-me calmo, com as ideias no sítio. Ajudou-me muito nas preparações diárias como a alimentação, a preparação da roupa. E isso permitiu-me ter tempo para descansar". 

"Os dias são muito longos. Começam cedo, terminam tarde. Desde a hora que se chega ao final da etapa passa tudo muito depressa. Tem de se falar com os mecânicos, tratar da higiene, fazer uma refeição, uma massagem com o fisioterapeuta para descansar melhor e ainda há o briefing diário", explicou. "Tê-la comigo deu-me conforto, ajudou-me a manter a parte emocional equilibrada e, certamente, ajudou-me a ganhar tempo".

No final, Santos foi 28.º classificado na categoria das motos, tendo subido ao pódio na categoria dos estreantes das duas rodas nesta competição ao conquistar a segunda posição, afirmando que “o meu primeiro Dakar está concluído. Fui o segundo melhor rookie (estreante) e estou muito feliz com este resultado. Foi uma grande corrida. É muito bom estar no final e passar pelo pódio", em comunicado logo após o termino da prova.

Para além desta prestação 'em pista', o piloto de Torres Vedras também venceu o prémio de melhor capacete na categoria das motos. Em jeito de comentário a este prémio, Santos explicou ao SAPO24 que já na apresentação em Portugal, no evento Oeste TT, "as pessoas ficaram logo maravilhadas e sentiram muito de si ali".  O capacete foi pintado por Eduardo Códices e as ideias foram "representar o país e a nossa zona". Então, explicou que logo surgiram as imagens do "Atlântico, dos moinhos, algo muito presente na zona oeste" de onde é oriundo.

Para 2025, pensar em competir no Rally Dakar novamente é "cedo. Enquanto estava em prova, não pensava em lá voltar. Nesta fase, que já começo a respirar, já começo a pensar. Agora, o Campeonato do Mundo de RallyRaid passa por Portugal [e também por Espanha] e quero participar nessa prova, a BP Ultimate Rally-Raid Transibérico entre 2 e 7 de abril. É uma prova muito similar ao Dakar, só que não tem deserto. Em Portugal passa pelo Alentejo e também pelo Ribatejo, penso. Quero fazer o Campeonato Nacional de Todo-o-Terreno, para me manter ativo", finalizou Santos.