Há por estes dias um português pelo meio da guerra: António Guterres, que acredita ser um “mensageiro da paz”. O antigo-primeiro-ministro, secretário-geral das Nações Unidas, chegou hoje à capital ucraniana, onde amanhã se reúne com o presidente Volodymyr Zelensky. Antes, porém, passou por Moscovo, onde se encontrou com Vladimir Putin.

Na chegada a Kiev, aos jornalistas portugueses, Guterres disse que a prioridade mais imediata no conflito da Ucrânia é criar condições para salvar os civis que se encontram retidos numa fábrica sitiada em Mariupol. Primeiro, há que garantir as condições para que a ONU, em cooperação com as autoridades russas e ucranianas, possa estabelecer um corredor humanitário que permita a saída de centenas de civis que se encontram numa fábrica siderúrgica em Mariupol.

“Imaginem centenas de mulheres e crianças, em corredores escuros e sem acesso a nada e no meio de uma guerra. É prioritário conseguir fazer com que possam sair dessas condições”, disse Guterres, numa conferência de imprensa improvisada.

Guterres reconheceu que a tarefa será difícil, já que “se trata de pessoas que estão retidas num espaço sitiado” pelas tropas russas, obrigando por isso a uma “logística complexa”, já que será necessário garantir que o corredor humanitário não será utilizado “por outros atores”.

O secretário-geral da ONU reiterou que a sua organização continua empenhada em conseguir encontrar uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia, repetindo que, para as Nações Unidas, “não há qualquer dúvida que se trata de uma invasão injustificada”.

Sobre o ‘timing’ da sua visita a Moscovo e a Kiev, que tem sido criticada por vários analistas, Guterres esclareceu que, na sua perspetiva, esta foi “a melhor ocasião” para conversar com os líderes russo e ucraniano. Guterres explicou ainda que não está “excessivamente preocupado” pelo facto de a ONU não ter sido envolvida nas negociações políticas, atribuindo esse fator à indisponibilidade da Rússia em aceitar essa intermediação.

O secretário-geral das Nações Unidas recordou que a sua organização está a acompanhar de perto as tentativas de negociação de paz, aludindo a uma recente reunião com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que tem tido um papel muito ativo na mediação do conflito.

“Além do mais, lembro que as Nações Unidas têm cerca de 1.400 funcionário em Kiev, a trabalhar para fazer chegar ajuda humanitária a milhões de ucranianos.”