O animal fossilizado encontrado no estado de Maryland, nos Estados Unidos, em 2011, era um Astroscopus countermani, uma espécie de ‘observador de estrelas’ – cujo nome se deve ao facto de os seus olhos estarem no topo da cabeça –, o mais antigo membro conhecido da sua família e do seu género.

Segundo noticia o New York Times, os cientistas suspeitam que, entre aproximadamente 7,5 milhões a 10,5 milhões de anos, na era Miocénica, este espécime de 'observador de estrelas' morreu e a sua cavidade cerebral pode ter sido infiltrada por vermes aquáticos, que “devoraram” o cérebro do peixe em decomposição, deixando uma elevada quantidade de excrementos no seu lugar.

Embora este fóssil não seja propriamente uma nova descoberta, os autores puderam utilizar uma tecnologia melhorada para analisar a cavidade cerebral e as partículas fecais, sem as destruir, e num artigo publicado em janeiro, na revista Rivista Italiana di Paleontologia e Stratigrafia, os cientistas descreveram a utilização de um dispositivo espectroscópico para confirmar as assinaturas de cálcio e fosfato dos coprólitos no interior da cabeça do peixe e fornecem a primeira descrição de minúsculos aglomerados fecais invertebrados.

Stephen J. Godfrey, curador de paleontologia no Museu Marinho de Calvert, em Maryland, e autor do estudo, considera notável que um peixe tão pequeno tenha sobrevivido à fossilização, mas igualmente notável que os coprólitos também tenham sido preservados.

As falésias de Calvert, local onde o fóssil foram encontrados os coprólitos, estendem-se por 56.32 quilómetros ao longo da costa de Maryland, um local onde foram encontrados fósseis de 650 organismos diferentes. Estes minúsculos coprolitos foram encontrados numa variedade de fósseis, incluindo um crânio de peixe, conchas de caracóis, conchas de amêijoa, entre outros.

John Nance, coautor e gestor de coleções de paleontologia no Museu Marinho de Calvert, encontrou numerosos vestígios de fósseis nas praias junto a estas falésias, muitos dos quais foram referidos neste recente artigo.

"Não conhecemos a identidade dos produtores destas partículas fecais", segundo Alberto Collareta, coautor e paleontólogo da Universidade de Pisa, "mas sabemos que o seu comportamento se revelou bastante bem sucedido" – já que o mesmo tipo e forma de micro-coprólitos têm sido encontrados em pequenos espaços semelhantes por centenas de milhões de anos.

Assim, embora os grandes fósseis captem muita da atenção na paleontologia, "os fósseis de organismos minúsculos têm muitas vezes mais a dizer", segundo Aline Ghilardi, professora de paleontologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte no Brasil.

A professora, que não integrou a investigação, afirma que as criaturas mais pequenas e o que estas deixam para trás permitem identificar histórias detalhadas sobre mudanças ambientais ao longo do tempo.

"Cada tipo de fóssil tem uma história diferente para contar, e estas histórias complementam-se umas às outras, ajudando-nos a reconstruir uma imagem mais precisa do passado. Os paleontólogos precisam de todas estas peças para reconstruir a história da vida", conclui.