O Ministério da Educação lançou o projeto de substituição de manuais em papel por livros digitais de forma gradual em 2020/2021, embora seja voluntário, contará com cada vez mais estabelecimentos de ensino. Neste ano letivo, por exemplo, 23.159 alunos do 3.º ao 12.º anos, em cerca de 160 escolas, de todo, o país optaram pelos manuais digitais.

E são estes números que assustam o  Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida , que lançou a petição contra os manuais digitais em dezembro.

"A principal razão foi a perceção do descontentamento generalizado de encarregados de educação, de docentes e até das crianças sobre esta experiência que está a ser levada a cabo nas escolas portuguesas. Como está explicado na petição, este projeto é prejudicial à aprendizagem e saúde das crianças, potencia a distração e promove a navegação online sem supervisão, aumentando riscos de contacto com conteúdos inadequados, e desnecessários, em crianças, algumas muito pequenas", começam por salientar os autores desta petição, originalmente lançada por Catarina Prado e Castro, criticando depois as escolhas dos Governo.

"A implementação do projeto na Escola Pública tem sido desastrosa, por falta de condições, técnicos de informática, etc, mas o que moveu a escrita da petição foram as próprias questões de fundo do projeto, não a parte técnica"

"Continua-se a fazer das nossas crianças cobaias, numa experiência que sabemos que já terminou noutros países mais avançados no processo de digitalização do ensino, precisamente pelos maus resultados obtidos e pelos défices expressivos na leitura e escrita dessas crianças. Por outro lado, a implementação do projeto na Escola Pública tem sido desastrosa, por falta de condições, técnicos de informática, etc, mas o que moveu a escrita da petição foram as próprias questões de fundo do projeto, não a parte técnica", salientam.

A petição vai então ser entregue esta sexta-feira na Assembleia da República, onde terá de ser apreciada pela comissão parlamentar de Educação. "A autora da Petição espera ser chamada para audiência. Esperamos que haja uma discussão séria sobre o tema e que deixe de se insistir numa experiência claramente negativa para as crianças e com resultados que comprometem o seu futuro", referem.

"Continua-se a fazer das nossas crianças cobaias, numa experiência que sabemos que já terminou noutros países mais avançados no processo de digitalização do ensino, precisamente pelos maus resultados obtidos"

São vários os estudos que provam que os jovens passam demasiado tempo à frente de ecrãs, ou com acesso a tecnologias. Quase diariamente, por todo o mundo, há dados concretos sobre estes temas e o Movimento enumera alguns dos problemas.

Neste ano letivo, por exemplo, 23.159 alunos do 3.º ao 12.º anos em cerca de 160 escolas de todo o país optaram pelos manuais digitais.

"Os estudos científicos não deixam margens para dúvidas: o contacto precoce e excessivo com ecrãs perturba o desenvolvimento saudável de crianças e jovens, afetando a sua saúde física e mental. Tanto os smartphones usados de forma desregrada como computadores e tablets fornecidos na escola e para estudar em casa têm precisamente os mesmos problemas em comum. Jogos e redes sociais provocam uma enorme dependência, a navegação online sem supervisão expõe crianças a conteúdos e sites inapropriados para a sua idade, como conteúdos pornográficos e violentos, e coloca-as em risco de diversas formas nas redes digitais, com cyberbullying, predadores sexuais, etc", analisa o Movimento, que gostaria que o Ministério da Educação respondesse à questão do porquê de ter levado este projeto adiante.

"Com certeza que dentro da indústria tecnológica estarão muitas empresas a ganhar muito dinheiro com este projeto e dentro das editoras também"

"Deveria justificar-se perante as evidências de que não há motivos pedagógicos, nem de saúde e muitos menos ecológicos para a mudança para o digital. Mas como é lógico, alguém estará a ganhar com este projeto e não são são os professores, os pais e muito menos os alunos. Com certeza que dentro da indústria tecnológica estarão muitas empresas a ganhar muito dinheiro com este projeto e dentro das editoras também", dizem, apontando também o dedo às questões ambientais.

"Ainda há dias soubemos que o Governo anunciou 6,5 milhões para comprar novos computadores para substituir os que estão avariados e garantir que as provas e exames se mantêm em formato digital. Os computadores avariados, que não terão mais do que 3 a 4 anos, vão para cemitérios de computadores ou aterros. O projeto manuais digitais em que se substitui livros por computadores e tablets é péssimo a nível ambiental, ao contrário do que apregoam. Basta pensar e comparar a quantidade de material reciclável de um livro e de um computador, na durabilidade de cada um deles e nos gastos de electricidade implicados na sua utilização ao longo da vida escolar de um aluno", adianta o Movimento, que, a finalizar, apresenta dados sobre o que os pais pensam sobre esta medida dos manuais digitas.

"Mais de 80% dos pais estão descontentes com o projeto. Sabemo-lo não só através da perceção que temos nas escolas, mas o inquérito que estamos a levar a cabo com centenas de respostas assim o indica".