Os vencedores

  • PS

Não é o único, mas é o grande vencedor. O vencedor com V maiúsculo, vá.

E bastava escrever: maioria absoluta. A noite é de festa para o Partido Socialista, que conseguiu não só a maioria de deputados na Assembleia da República, a segunda na história do partido, como dar uma nova cor ao mapa político do país.

A "viragem" de alguns bastiões da direita — como Viseu e Leiria — é uma nota importante num país onde apenas Madeira não fica a cor-de-rosa depois deste ato eleitoral. 

"Uma maioria absoluta não é o poder absoluto, não é governar sozinho, é uma responsabilidade acrescida, é governar com e para todos os portugueses", assinalou António Costa no discurso de vitória.

  • Chega

O Chega alcança um dos seus objetivos: ser a terceira força política. André Ventura, até agora deputado único, consegue um grupo parlamentar com 12 deputados.

Ventura reclama “grande vitória” e diz que será verdadeira oposição ao PS. "Se o PS acha que vai ter a vida mais facilitada nesta legislatura, nós vamos transmitir-lhe a mensagem precisamente oposta. O que não foi feito nos últimos seis ou sete anos, começará a ser feito já amanhã", afirmou o líder do Chega.

Comparativamente às legislativas de 2019, o partido cresceu quase seis pontos percentuais e conquistou mais cerca de 318 mil votos.

Por círculos eleitorais, foi em Lisboa que esse crescimento se traduziu num maior número de mandatos. Com quase 92 mil votos (7,77%), o partido elegeu quatro deputados (em 2019 não foi além dos 2% e um deputado).

  • Iniciativa Liberal

Também Cotrim de Figueiredo terá companhia na Assembleia da República. Os liberais passaram de oitava força mais votada para a quarta, lugar que era ocupado pelo PCP, conseguindo eleger oito deputados (metade deles em Lisboa).

O líder da IL diz que “bom resultado” do partido apenas fica manchado com a maioria PS. Visivelmente emocionado, Cotrim de Figueiredo, perante uma sala com centenas de pessoas, disse que a maioria absoluta do PS é “preocupante” porque pode representar uma era em Portugal de “enorme domínio do Estado por parte de um único partido”.

  • Livre

Depois da eleição de Joacine Katar Moreira, em 2019, o Livre volta a conseguir eleger pelo círculo eleitoral de Lisboa. Não conseguiu o objetivo de formar um grupo parlamentar, mas Rui Tavares estará na Assembleia da República.

Uma "segunda oportunidade" para o partido?  O historiador e fundador do Livre assume que sim.

“Sabemos que é em certa medida uma segunda oportunidade que nos é dada, sabemos que não vamos pedir uma terceira, vamos trabalhar com muito afinco (…) E vamos nas próximas eleições recuperar o caminho que nos falta recuperar e que perdemos para representar toda a gente que se revê na esquerda verde europeia em Portugal”, afirmou Rui Tavares.

créditos: EPA/MANUEL DE ALMEIDA

Os vencidos

  • CDS-PP

Em 2019 o CDS-PP foi o quinto partido mais votado, elegendo cinco deputados. Sabia-se que estas eram umas eleições decisivas para o futuro do partido "do táxi", mas o desfecho foi o pior de todos.

Com 1,6% dos votos e sem eleger qualquer deputado pela primeira vez em 47 anos de democracia, Francisco Rodrigues dos Santos anunciou a demissão.

"Este resultado não deixa margem para dúvidas de que deixei de reunir condições para continuar a liderar o CDS - Partido Popular e, por essa circunstância, apresentei ao presidente do Conselho Nacional a minha demissão de presidente do CDS", afirmou.

  • PSD

O PS ganhou, logo o PSD perdeu. Não alcançou o seu objetivo, que passava por uma maioria de direita no Parlamento, e elegeu menos seis deputados em relação a 2019 (com o círculo do estrangeiro ainda por fechar).

Apesar de não ter perdido substancialmente em número de votos (teve menos 80 mil do que nas últimas legislativas), Rui Rio tem uma das derrotas da noite.

A nível nacional, o PSD apenas venceu num círculo eleitoral, o da Madeira, conjuntamente com o CDS-PP, tendo perdido, em relação às anteriores legislativas, o primeiro lugar em votos em Bragança, Vila Real, Leiria e até no antigo ‘cavaquistão’, Viseu.

Tal como Francisco Rodrigo dos Santos, também Rio colocou em cima da mesa o cenário de demissão.

"Se se confirmar que o PS tem uma maioria absoluta, eu sinceramente não estou a ver como é que posso ser útil neste enquadramento", salientou o líder social-democrata, que obteve 27,8% dos votos.

  • Bloco de Esquerda

De 19 deputados, eleitos em 2019, o Bloco de Esquerda passa apenas a ter uma representação de cinco deputados — sendo agora a quinta força mais representada. Entre os lugares perdidos está o do cabeça de lista pelo círculo de Coimbra, José Manuel Pureza.

"O resultado do Bloco de Esquerda é um mau resultado, é uma derrota e neste partido encaramos as dificuldades tal como elas são", assumiu-o Catarina Martins.

A coordenadora do BE encara ainda o "mau resultado" de outro ângulo.

"Este é também um mau resultado por causa do resultado que teve a extrema-direita e o Chega e devemos abordar isso também com clareza", acrescentou durante a sua reação.

  • CDU

Os comunistas perdem metade da sua bancada parlamentar. Dos 12 eleitos em 2019, apenas conseguem reeleger seis. O PCP perde também o lugar do seu parceiro de coligação, Os Verdes, que, tal como o CDS, fica sem representação parlamentar na próxima legislatura.

O grupo parlamentar comunista perdeu ainda dois 'pesos pesados', nomeadamente João Oliveira, líder parlamentar desde 2013, e António Filipe, deputado há 35 anos.

João Oliveira, que foi o rosto da campanha na ausência de Jerónimo de Sousa, não conseguiu a eleição pelo círculo de Évora. Já António Filipe, um dos seus deputados mais antigos e com mais destaque nos trabalhos da Assembleia da República, não conseguiu a reeleição em Santarém — o primeiro distrito a eleger um deputado do Chega.

  • PAN

O PAN perde a sua bancada parlamentar, sendo Inês de Sousa Real deputada única pelo partido na próxima legislatura. De quatro deputados eleitos em 2019, apenas a líder do partido e cabeça de lista por Lisboa conseguiu a sua eleição.

“É um mau resultado que assumimos e que a direção terá que fazer a sua reflexão interna em relação à estratégia que queremos desenvolver para o futuro do partido e do país”, afirmou Inês de Sousa Real.

  • A abstenção

Apesar do contexto da pandemia da covid-19, a abstenção desceu de 51,4%, em 2019, para 42,04%, quando faltam ainda apurar os resultados dos círculos da Europa e Fora da Europa.

Segundo dados do portal EyeData, abstenção foi mais baixa nos concelhos onde foram registados mais casos de covid-19 nas últimas semanas.

Os concelhos com maior nível de abstenção foram Ribeira Grande, na Madeira, com 74,20% e Vila Franca do Campo, nos Açores, com 69,04%. Estes dois concelhos já tinha liderado o 'ranking' da abstenção nas eleições legislativas de 2019, quando registaram 68,70% e 70,37%, respetivamente.

Em sentido contrário, os concelhos com maior participação hoje foram Vila de Rei, Castelo Branco, com abstenção de 31,88% e Guimarães, Braga, com 32,25%.