Cientistas, ativistas e representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) têm detalhado repetidamente como o mundo precisa de deixar de usar carvão, petróleo e gás.

Na 28.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Alteração Climáticas, abreviadamente COP28, que decorre nos EAU, abriu na terça-feira um designado ‘dia da transição energética’, com uma sessão dirigida por dirigentes de topo de duas empresas petrolíferas.

Os negociadores produziram um novo rascunho do que se espera venha a ser o documento principal destas negociações, mas é de tal modo aberto nas suas 24 páginas que não avança pistas sobre o que pode ficar acordado quando a COP acabar na próxima semana. Seja o eu for aprovado tem de o ser por consenso.

“É muito geral”, disse o presidente-executivo da COP, Adnan Amin, à AP, na terça-feira. “Penso que dá uma boa base para se avançar. E estamos particularmente satisfeitos por te sido apresentado tão cedo”.

Isto vai dar tempo para as negociações, acrescentou Amin, em especial quanto ao futuro dos combustíveis fósseis, “onde vai haver um processo de envolvimento muito intensivo”.

O cientista climático Bill Hare, presidente executivo da Climate Analytics, afirmou que a questão central da COP “é alcançar uma conclusão sobre o abandono dos combustíveis fósseis”. Se isto não for conseguido, previu a deterioração da rutura climática: “Duvido que se veja uma melhoria na temperatura”.

As opções contempladas no rascunho sobre o futuro dos combustíveis fósseis vão desde “uma redução gradual da energia baseada no carvão” a “uma saída ordenada e justa dos combustíveis fósseis”.

Outro cientista climático, Niklas Hohne, do New Climate Institute, a propósito, considerou: “Precisamos de sair dos combustíveis fósseis, sem subterfúgios”.

Porém, apontou, “nesta conferência, há muitos subterfúgios colocados na mesa das negociações, (…) principalmente para prolongar a vida dos combustíveis fósseis, e um é a conversa sobre a manutenção dos combustíveis fósseis”.

A intenção de manter o uso dos combustíveis fósseis remete para a captura e armazenagem das emissões, uma tecnologia que tem sido muito falada, mas que ainda não provou a sua validade, apontaram Hohne e outros cientistas.

Na terça-feira, as organizações de Hohne e Hare divulgaram uma atualização do Rastreador da Ação Climática (Climate Action Tracker), que acompanha as promessas, políticas e ações e calcula o impacto na subida da temperatura média global.

Com base nas promessas feitas pelos dirigentes, apuraram que o mundo está a seguir na direção errada.

Há um ano, os compromissos dos Estados, se cumpridos, levariam a um aumento da temperatura média global em 2,4 graus Celsius (ºC), em relação ao período pré-industrial.

A atualização indica que o valor deste aumento é agora de 2,5 ºC, disse a autora principal do trabalho de rastreamento Claire Stockwell, da Climate Analytics.

“Muitos, muitos países continuam a financiar expansões significativas dos combustíveis fósseis”, disse Ana Missirliu, analista do New Climate Institute. “E no último ano, desde a anterior COP, vimos uma cascada de anúncios, a começar desde logo pelos Emirados Árabes Unidos, cujo plano de investimento de 150 mil milhões de dólares na expansão da sua indústria de petróleo e gás excede largamente – muito largamente – o seu plano de investimento em energia renovável”.