O esclarecimento foi prestado aos jornalistas à entrada do Hospital de S. João pela doutora Maria João Baptista, diretora clínica deste serviço.

A criança de um ano estava internada no Centro Materno Infantil do Norte, também no Porto, por covid-19, mas "alterações cardíacas" obrigaram à transferência para o São João, onde foi colocada em ECMO, adiantou uma fonte oficial daquele hospital ao SAPO24 durante esta manhã.

"Dada a gravidade do quadro, a equipa clínica teve necessidade de assegurar ventilação mecânica e suporte circulatório com ECMO", disse a mesma fonte.

"A técnica de ECMO é muitas vezes o último recurso para tratar pessoas com doenças graves respiratórias e/ou cardíacas, em que a máquina de circulação garante as trocas gasosas do sangue e a distribuição desse sangue oxigenado a todos os órgãos", explica.

Aos jornalistas, Maria João Baptista disse que a criança deu entrada no hospital "com o quadro compatível da existência de uma miocardite". "Estava clinicamente muito doente, tinha arritmias cardíacas que foram muito difíceis de controlar", adiantou, explicando o bebé entrou "em choque cardiogénico, ou seja, deixa de ser capaz de assegurar a circulação do sangue no corpo" e foi isso que obrigou ao recurso da ECMO.

"Posteriormente a isso, o bebé foi ficando estável, a equipa clínica está a prestar todos os cuidados de que necessita e podemos dizer felizmente neste momento que a situação está controlada", afirmou.

E prosseguiu: “Parece tratar-se de uma infeção de covid-19 com um quadro de miocardite. Como é evidente, neste tipo de casos temos de pensar qual é a causa mais provável, e esta parece ser a mais provável, mas como é obvio, há outras miocardites que são provocadas por outros vírus e, neste momento, estamos a pesquisar outros vírus que não foram até ao momento identificados e temos de procurar outras causas para ter a certeza que aquilo que aconteceu foi uma miocardite associada à covid-19”.

Numa mensagem a todos os pais, a médica recomendou que ”haja tranquilidade”, enfatizando que “a existência de infeções com esta gravidade é muito rara em idade pediátrica e, sobretudo, em bebés tão pequenos”.

“Sabemos que com esta idade, com 13 meses, é um bebé frágil e que corre sempre um risco perante uma infeção, seja o SARS-COV-2 ou qualquer outro vírus, de ter um processo que é mais grave, que pode ter de entrar em cuidados intensivos e em ECMO. O que é que nós devemos fazer é ser prudentes. Não é provável que uma criança vá ter um quadro destes, os pais não têm de ficar alarmados. Não estamos à espera de ter um aumento de casos deste género”, assinalou a diretora clínica.

Continuando a dirigir-se aos pais, lembrou haver medidas que “protegem todos, para evitar as infeções e a gravidade das infeções”, como a utilização da máscara, o arejamento dos espaços fechados e evitar os contactos desnecessários, insistindo que “todas as pessoas que são potencialmente elegíveis para fazer a vacina devem proteger-se e devem fazer a vacina”.

Sobre as próximas horas do bebé, disse que os médicos vão “deixar que ele descanse um pouco”, pois é necessário que fique “mais estável para que nos próximos dias” possam “retirar a ECMO e perceber se o coração funciona normalmente”.

“Acreditamos muito que seja isso que vai acontecer”, acrescentou.

Gravidade em crianças é rara mas reforça importância da ciência

"Todas as vidas importam e a vida de uma criança deve ser protegida de forma ainda mais especial, pelo que nos preocupa o palco que é dado a discursos inconsistentes e que, sobretudo, não têm qualquer respaldo na evidência científica produzida sobre os efetivos riscos da doença nas crianças e a segurança e benefícios da vacinação", defende em comunicado o bastonário da Ordem dos Médicos (OM).

O bastonário da OM e o coordenador do Gabinete de Crise, Filipe Froes, deixam, em comunicado, "uma palavra de confiança à equipa de excelência que acompanha a criança, e de solidariedade para com a família neste momento difícil", e insistem "na importância de não se desvalorizarem os efeitos desta infeção nas mais variadas faixas etárias"

"Mesmo na nova fase da pandemia em que nos encontramos, e que tem permitido a reabertura progressiva da sociedade, é essencial que não nos esqueçamos do caminho difícil que percorremos e do que conseguimos alcançar", defende Miguel Guimarães.

O bastonário salienta o papel da vacinação contra a covid-19, que foi sendo alargada a várias faixas etárias e que "permitiu mudar o curso da pandemia e tornar a doença covid-19, regra geral, menos grave".

"No caso concreto das crianças, é verdade que a infeção tende a ser mais benigna, mas os casos graves existem e não devem ser desvalorizados", defende, por seu turno, o coordenador do Gabinete de Crise, Filipe Froes.