No entanto, a UNRWA é "insubstituível e indispensável" para o desenvolvimento humano e económico dos palestinianos, afirmam os autores do relatório encomendado pelo secretário-geral António Guterres a um grupo independente presidido pela ex-ministra dos Negócios Estrangeiros da França Catherine Colonna.

"A UNRWA é crucial no fornecimento de ajuda humanitária vital e de serviços essenciais, especialmente na saúde e na educação, aos refugiados palestinianos em Gaza, Jordânia, Líbano, Síria e Cisjordânia", sublinha o relatório, que, em contrapartida, reconhece que "os problemas ligados à neutralidade persistem".

O documento, elaborado ao longo de nove semanas em Israel, na Cisjordânia ocupada e na Jordânia, inclui uma série de recomendações que Colonna apresentou à imprensa na sede da ONU em Nova Iorque.

"Será melhorado o que tiver de ser melhorado. Tenho confiança de que a implementação destas recomendações ajudará a UNRWA a cumprir com a sua missão", declarou Colonna.

Israel denunciou que 12 funcionários da agência participaram diretamente nos ataques sem precedentes do grupo islamista Hamas em 7 de outubro em solo israelita, que deixaram 1.170 mortos, sobretudo civis, segundo estimativa da AFP com base em dados oficiais.

As autoridades israelitas afirmam que a agência emprega "mais de 400 terroristas" em Gaza. Colonna, pela sua parte, explicou hoje aos jornalistas que o relatório assinala que "a UNRWA não recebeu provas de parte de Israel" das supostas relações de funcionários da agência com o Hamas, e "não que não haja provas" de um eventual vínculo.

Israel reagiu ao relatório com uma dura crítica. "O Hamas penetrou tão profundamente na UNRWA que já não se pode determinar onde acaba a UNRWA e onde começa o Hamas", disse um porta-voz da diplomacia israelita, segundo o qual "mais de 2.135 funcionários" dessa agência pertencem ao Hamas ou à Jihad Islâmica.

"O problema com a UNRWA não é que existam algumas maçãs podres, é que se trata de uma árvore podre e venenosa cujas raízes são o Hamas", sustentou.

Após a denúncia de Israel, alguns países anunciaram a suspensão da ajuda financeira à UNRWA, que emprega mais de 30 mil pessoas em toda a região onde opera.

O relatório cita casos "de funcionários que expressam publicamente as suas opiniões políticas, livros do país anfitrião com conteúdo problemático [...], sindicalistas politizados que ameaçam a gestão [da agência] e interrompem as operações humanitárias", de acordo com o grupo independente.

"Com base numa lista de março de 2024 que contém os números de identidade dos palestinianos, Israel afirmou publicamente que uma quantidade significativa de funcionários da UNRWA são membros de organizações terroristas. No entanto, [...] ainda não provou isso", alertam os autores.

Criada pela Assembleia Geral da ONU em 1949, a agência "é a espinha dorsal das operações humanitárias" em Gaza, como reiterou o seu diretor, Philippe Lazzarini, ao Conselho de Segurança na semana passada, denunciando uma campanha "insidiosa" para encerrar as suas operações.

"O desmantelamento da UNRWA teria repercussões duradouras", alertou, sobretudo porque iria "agravar a crise humanitária em Gaza e acelerar o início da fome".

A fome já ameaça o norte do território palestiniano, onde quase 34 mil pessoas, a maioria civis, morreram desde o início da ofensiva israelita, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.