“Recentes declarações de Jair Bolsonaro confrontando governadores, ora envolvendo a necessidade de reforma tributária, sem expressamente abordar o tema, mas apenas desafiando governadores a reduzir impostos vitais para a sobrevivência dos estados, ora se antecipando a investigações policiais para atribuir factos graves à conduta das polícias e seus governadores, não contribuem para a evolução da democracia no Brasil”, diz o documento a que a imprensa local teve acesso.

No início de fevereiro, Bolsonaro desafiou publicamente os governadores, em declarações aos jornalistas, a eliminarem um imposto estadual sobre combustíveis e, em contrapartida, o chefe de Estado anularia a tributação federal sobre os mesmos.

No último fim de semana, o chefe de Estado voltou a causar mal-estar entre os governadores, ao associar a morte do ex-capitão da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro Adriano Nóbrega, suspeito de ter orquestrado o assassinato de Marielle Franco, ativista e vereadora do Rio de Janeiro morta a tiro em 2018, ao Partido dos Trabalhadores (PT).

“Quem é responsável pela morte do capitão Adriano? A PM da Bahia, do PT. Preciso dizer mais alguma coisa?”, questionou no sábado Bolsonaro, citado pela imprensa brasileira.

Adriano Nóbrega, antigo capitão de uma unidade de elite da polícia do Rio de Janeiro, morreu na semana durante uma troca de tiros com agentes policiais no município de Esplanada, onde estava escondido.

Conhecido como “Capitão Adriano”, o chefe da milícia, que estava em fuga desde 2019, era acusado de liderar o chamado “Escritório do Crime”, um alegado grupo de assassinos de elite suspeito de estar envolvido na morte de Marielle Franco em março de 2018.

Segundo a imprensa local, Nóbrega tinha dito ao seu advogado que temia ser morto para “eliminação de provas”.

Ex-capitão do Bope, batalhão de elite da polícia militar do Rio de Janeiro, Nóbrega recebeu em 2005 a medalha Tiradentes, a mais alta decoração daquele estado brasileiro, numa distinção concedida por iniciativa de Flávio Bolsonaro, atualmente senador, e filho do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

A mãe e a ex-mulher de Adriano Magalhães da Nóbrega também eram funcionárias do escritório daquele filho de Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Jair Bolsnaro disse, no passado sábado, que ex-polícia era um herói quando foi condecorado.

“Não tem nenhuma sentença tramitada e julgada a condenar o capitão Adriano por nada. Sem querer defendê-lo (…), naquele ano (2005) ele era um herói da Polícia Militar. Como é muito comum, qualquer polícia em operação mata vagabundo, mata traficante, e a imprensa, em grande parte, vai em defesa do marginal e condena o policial. Não existe nenhuma ligação minha com a milícia do Rio de Janeiro, zero. Eu é que pedi para o meu filho condecorar, para que não haja dúvida. Ele era um herói”, afirmou Bolsonaro.

Ainda na carta, os governadores apelam ao diálogo, convidando o Presidente brasileiro a comparecer no próximo Fórum Nacional de Governadores, no dia 14 de abril.

“Equilíbrio, sensatez e diálogo para entendimentos (…) é o que a sociedade espera de nós. Trabalhando unidos conseguiremos contribuir para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, pela redução da desigualdade social e pela busca por prosperidade económica. Juntos podemos atuar pelo bem do Brasil e dos brasileiros”, finaliza o documento, assinado por 20 governadores.

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