Em comunicado, a organização denunciou a repressão do ativismo e a censura na China continental, onde foi lançada “uma campanha de desinformação que enquadra os protestos em Hong Kong como um movimento separatista violento e extremo”.

“As autoridades do continente temem que os protestos em Hong Kong possam inspirar desafios ao Governo, levando Pequim a suprimir quaisquer sinais de apoio aos manifestantes”, apontou a diretora da HRW para a China, Sophie Richardson.

Hong Kong enfrenta, há quatro meses, a mais grave crise política desde a sua entrega à China, em 1997, com ações e manifestações quase diárias exigindo reformas democráticas, como eleições livres, e um inquérito independente à violência policial.

De acordo com a HRW, as autoridades do continente detiveram e perseguiram, desde junho, dezenas de ativistas e internautas que expressaram apoio aos protestos pró-democracia, e alertaram estudantes a não participarem no movimento.

No comunicado, a organização de defesa dos direitos humanos dá conta de pelo menos quatro ativistas chineses que ainda estão detidos na sequência do apoio a Hong Kong.

Um dos ativistas, Quan Shixin, foi detido a 25 de julho, por suspeitas de “provocar desacatos” – um crime que na China prevê uma pena até cinco anos de prisão -, tendo sido preso formalmente um mês depois.

Shixin, crítico do regime chinês, já tinha sido detido em setembro de 2018, por dez dias, devido a publicações na rede social Twitter sobre os líderes do Partido Comunista Chinês.

Em todo o país, refere a HRW, a polícia tem perseguido e interrogado vários ativistas. Chen Simin, um ativista da província de Human, terá recebido telefonemas diários da polícia depois de ter postado fotografias nas redes sociais em que cobria o olho direito, num gesto de solidariedade com uma manifestante que sofreu uma lesão ocular durante um confronto com as autoridades.

Segundo a mesma ONG, as autoridades chinesas dissuadiram também vários estudantes do continente que estudam em Hong Kong de participarem nos protestos.

Alguns terão mesmo recebido telefonemas e mensagens da polícia, ordenando que ficassem longe de “protestos ilegais em massa”.

Para a HRW, “o apoio dos ‘continentais’ à democracia mostra que este é um valor partilhado por pessoas de ambos os lados da fronteira”.

Na origem da contestação, que se vive no território desde o início de junho, está uma polémica proposta de emendas à lei da extradição, já retirada formalmente pelo Governo de Hong Kong.

Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

A transferência da soberania da antiga colónia do Reino Unido para a China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”.

Tal como acontece com Macau, para Hong Kong foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.