A posição foi transmitida pelo chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drien, de visita ao Líbano, que adiantou que essas reformas “são aguardadas há muito tempo”, pelo que se torna “urgente” que o Governo libanês as concretize “rapidamente”.

“É isto que venho transmitir às autoridades libanesas”, resumiu Le Drien aos jornalistas, no final de um encontro com o homólogo do Líbano, Nassif Hitti.

A visita de Le Drien ao Líbano ocorre num “contexto explosivo”, refere a agência noticiosa France Presse (AFP), já que o país está a vivenciar uma depreciação inédita da moeda local, uma alta nos preços, despedimentos em grande escala e restrições bancárias aos levantamentos e às transferências de dinheiro para o estrangeiro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês foi também recebido pelo chefe de Estado libanês, Michel Aoun, no Palácio Presidencial de Babada, a leste de Beirute, após o que se reuniu com o primeiro-ministro Hassan Diab e com o Presidente do Parlamento, Nabih Berri.

“Hoje, é urgente e necessário que o Governo se envolva de forma concreta na via das reformas, que são aguardadas há muito”, disse Le Drien que, segundo a AFP, não deu provas de qualquer indulgência em relação às autoridades libanesas.

“Os reparos que expressei não são apenas os da França, são, em primeiro lugar os dos libaneses e também do conjunto da comunidade internacional”, advertiu, numa altura em que Beirute vai encetar negociações com o FMI para obter uma ajuda financeira.

Segundo as estatísticas oficiais, perto de metade da população libanesa vive na pobreza e 35% da ativa está desempregada.

Em outubro de 2019, o agravamento da crise desencadeou uma inédita sublevação popular contra toda a classe política libanesa, acusada de corrupção e de incompetência, situação quase inalterada há décadas.

“Os libaneses expressaram veementemente as aspirações legítimas através de um movimento de mobilização popular iniciada em outubro passado. Saíram às ruas para marcar a sede de mudança. Esse apelo, infelizmente, não foi entendido até agora”, sublinhou o chefe da diplomacia francesa.

A sublevação de outubro serviu também como catalisador para a decadência dos serviços público, num país habituado aos crónicos cortes de energia elétrica e a uma gestão errática dos resíduos sólidos.

Nesse sentido, Le Drien evocou a muito aguardada reforma na área da energia, considerando-a como “emblemática, dado os gastos financeiros do Estado.

“Posso dizer, claramente, que o que foi feito até ao presente neste domínio não é encorajador”, sublinhou.

O pequeno país do Médio Oriente, que já se encontra em “default”, aprovou em abril um plano para relançar a economia e prometeu reformas.

No entanto, as negociações com o FMI continuam num impasse.

“Não nos criem ilusões. Não há alternativas a um programa do FMI para permitir ao Líbano sair da crise”, afirmou Le Drien.

Beirute espera obter cerca de 10 mil milhões de dólares (8.650 milhões de euros) do FMI, ajuda considerada “crucial” pelas autoridades locais para ajudar a restabelecer a confiança dos credores, permitindo, paralelamente, desbloquear os 11.000 milhões de dólares (9.520 milhões de euros) prometidos em 2018 numa conferência de apoio ao Líbano patrocinada por Paris.

Admitindo “obstáculos” nas negociações com o FMI, mas sem as citar, o primeiro-ministro libanês, garantiu a Le Drien que serão ultrapassados.

“Estamos determinados em prosseguir com as negociações. Esperamos a ajuda da França para as acelerar, dado que a situação financeira do Líbano não pode tolerar mais atrasos”, afirmou Diab.