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Newsletter diária • 27 fev 2023

 
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O Naufrágio de todos nós

 
 

Edição por Ana Maria Pimentel

A luta contra a indiferença tem de ser a prioridade. Ontem mais uma embarcação de migrantes naufragou no Mediterrâneo. As marés já devolveram o corpo de 62 pessoas, homens, mulheres e várias crianças. As buscas por mais corpos ceifados de vida continuam no meio da força das ondas, que atiraram o barco de madeira contra as rochas ao largo de Itália.

A última coisa que estas pessoas viram foi terra, um país europeu onde esperavam chegar e conseguir uma vida melhor. O seu último fôlego foi de esperança. Mas o país que viam, e onde esperavam desembarcar, havia sido já criticado pelo novo código de conduta obrigatório para operações de busca e salvamento no mar Mediterrâneo. Entre algumas das medidas, da já conhecida por lei Meloni, a que mais tem chocado as ONG é a obrigatoriedade de as embarcações de resgate terem de fazer o transbordo do salvamento que tiverem em mãos, ainda que detetem outros migrantes perdidos no mar e tenham a capacidade de os salvar. Discute-se agora se as equipas de resgate terão hesitado e atrasado o salvamento de 177 pessoas.

Na rota do mediterrâneo central no ano passado houve 102 mil incidentes. Importa lutar contra a indiferença, para que os corpos a boiar não se tornem um hábito na Europa, e apenas uma imagem que continuamente nos entra em casa. António Guterres lembrou que se trata da "morte de pessoas que procuravam um futuro melhor para si e para os seus filhos. Os direitos dos refugiados e dos migrantes são direitos humanos, têm de ser respeitados sem discriminação."

O La Repubblica, que tem acompanhado o caso ao minuto, lembra que entre as vítimas mortais estavam 20 crianças, uma delas recém nascida. Avança que o Ministério Público de Crotone terá já aberto um processo contra desconhecidos por homicídio múltiplo e cumplicidade na imigração ilegal. Entre os sobreviventes estará o homem que os migrantes apontam como o seu traficante, já detido.

Os relatos dos sobreviventes são dramáticos. E a única forma de dar sentido ao último fôlego de esperança da vida das vítimas é a indignação.